domingo, 30 de novembro de 2008
O beijo que procuras
Sou chama e neve branca e misteriosa
E sou, talvez, na noite voluptuosa
E sou, talvez, na noite voluptuosa
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!
Florbela Espanca
Seduziste-me
Antes de tocar teu corpo
já me tinhas seduzido duas vezes
Uma como teu sorriso em fogo
outra com teu olhar em riste
Quanto entrei em ti
de madrugada
foi apenas um gesto instinto
São assim os casamentos do Destino
como os raios no deserto em noite de luar
já me tinhas seduzido duas vezes
Uma como teu sorriso em fogo
outra com teu olhar em riste
Quanto entrei em ti
de madrugada
foi apenas um gesto instinto
São assim os casamentos do Destino
como os raios no deserto em noite de luar
Luís Gaspar
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Poema
O problema não é meter o mundo no poema;
Alimentá-lo de luz, planetas, vegetação.
Nem tão pouco enriquecê-lo,
Ornamentá-lo com palavras delicadas,
Abertas ao amor e à morte, ao sol, ao vício,
Aos corpos nus dos amantes.
O problema é torná-lo habitável, indispensável
A quem seja mais pobre, a quem esteja
Mais sódio que as palavras
Acompanhadas no poema.
Casimiro de Brito
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Todos os sentidos
Há sons que me confudem
Cheiros que não identifico
Gostos que me deixam na dúvida
Há coisas que mesmo estando em contato,
=
ainda não sei do que se trata
E a vista, essa por muitas vezes me faz incrédula
Mas meu Sexto Sentido, esse sim não me decepciona nunca.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
No perfume da manhã
Se eu pudesse - se os deuses permitissem
teria assistido hoje ao seu despertar.
E, então, teria feito uma festa
de luz, de cor, de aroma.
Eu transportaria para tua alcova
toda a vibração musical da aurora,
todo o estremecimento solar.
E teria enfeitado os teus cabelos
com o mais lúcido e macio dos raios de luz;
e teria espargido sobre os teus ombros
o perfume mais suave da manhã;
e teria prendido no teu riso a pétala mais diáfana.
E, quando te levantasse,
eu faria com que pisasse rosas frescas e voluptuosas;
e assim teus pés teriam como que sandálias de perfume.
teria assistido hoje ao seu despertar.
E, então, teria feito uma festa
de luz, de cor, de aroma.
Eu transportaria para tua alcova
toda a vibração musical da aurora,
todo o estremecimento solar.
E teria enfeitado os teus cabelos
com o mais lúcido e macio dos raios de luz;
e teria espargido sobre os teus ombros
o perfume mais suave da manhã;
e teria prendido no teu riso a pétala mais diáfana.
E, quando te levantasse,
eu faria com que pisasse rosas frescas e voluptuosas;
e assim teus pés teriam como que sandálias de perfume.
Nélson Rodrigues
domingo, 2 de novembro de 2008
Como Contas
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Carlos Drummond de Andrade
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