domingo, 24 de julho de 2011

Os perigos fora da torre...

Era uma vez uma garota que foi trancada por sua família em uma torre muito alta, colocada lá por ser teimosa e geniosa, defeitos (?) inaceitáveis, e por ter uma voz diferente das donzelas do vilarejo.
Lá ela tinha de tudo, ou, quase tudo. Toda as as manhãs ao acordar tudo o que precisava lá estava.Quem colocava e como colocava ela não sabia, pois na alta torre não havia portas.
Ela não tinha muito o que fazer por isso aperfeiçoou-se na arte da cozinha.Cozinhava e passava horas a cantarolar na única janela da torre.
Certo dia, enquanto no fogo estava sua nova receita, ela foi até a janela e começou a cantar, foi quando percebeu que estava sendo observada por um lindo cavaleiro montado em seu cavalo.


- Abra a porta, linda moça. Convida-me a entrar!
- Não há portas !


E virando -se para vê-lo melhor suas tranças que depois de tanto tempo sem corte haviam crescido muito cairam janela a fora, o rapaz ao ver tão imensas tranças agarrou-as e escalou a torre até entrar. A moça ainda surpresa pela visita e com o couro cabeludo dolorido perguntou:


-O que te trouxe até esses lados, foi o canto
doce da minha voz?
-Não, foi o cheiro bom da comida !

E isso virou rotina, todas os dias o jovem cavaleiro vinha, arragava as tranças da moça e entrava.A alegria pela visita era tão imensa quanto a cabeleira, mas as dores de cabeça e nas costas tão grande quanto.


-Sabe, andei pensando, você bem podia comprar uma escada, já não estou suportando as dores por carregar você na escalada.Você tem o dobro do meu peso, uma escada seria de muito valor.
-Escada!!? Ficou doida?? Sabe quanto custa uma escada? E tem mais, eu ando guardando dinheiro pra trocar de cavalo.Nem pensar em gastar com essa bobeira de escada !


A jovem não acreditava no que estava ouvindo, e desde então começou a tecer uma corda com os fios que perdia todos os dias ao pentear a longa cabeleira. Não levou muito tempo e lá estava uma firme corda.Mas o jovem cavaleiro não queria usar a corda, pois não acreditava que fosse resistente o bastante para suportar seu peso, já que de tanto comer a deliciosa comida havia engordado, e, obrigava a moça a jogar as tranças.


-Jogue-me as tranças, tenho fome e quero subir !

A moça já não aguentava mais, nem era a solidão que a atormentava, pois agora tinha companhia, mas a presença de alguém que não a ouvia, que não a valorizava.
Depois de um farto almoço, o jovem como de costume, foi tirar seu cochilo, a moça cabeluda não pensou duas vezes, lançou a corda de cabelos pela janela com uma das pontas presa ao pé da cama onde o moço dormia e saiu da torre. Montada ao cavalo
via ao longe sua morada ficando menor e distante.
A jovem mudou radicalemente sua vida, inclusive a cor da enorme cabeleira. Hoje não gosta mais de cozinhar mas canta lindamente, já não é mais um canto da janela, mas para um público faminto de sua voz firme e doce e tão diferente de tudo, que quanto mais se ouve mais se quer ouvir.















O jovem cavaleiro? Pelo que se sabe ainda mora na torre.

Deixando a barba crescer.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Palavras



Sempre amei por palavras

Muito mais do que devia
São um perigo as palavras


Alice Vieira

Terra

É como se você fosse terra e eu tivesse chovido


Aldir Blanc

Tempo

Tenho o tempo das borboletas

Uma semana é uma vida

Graça Carpes

Pressentimento

É como um perfume que a gente sente, mas não sabe de onde vem.

Às vezes passa logo, mas tem dias que insiste em ficar no ar, espalhando inquietude. Em certos momentos, é só um lampejo, igual à luz de um farol que pisca, de repente, no meio da neblina, deixando uma impressão com cara de certeza. De um jeito ou de outro, pressentimento é sempre embaçado, como um sonho que continua se sonhando depois de acordar.

E tem esse mistério de se fazer entender, mesmo sem se explicar.


Silvana Tavano

Psssiiuu!



Psssssiuu! O silêncio está quase dormindo!

Acho até que está sonhando. Ou será que está pensando? Às vezes o silêncio parece tão preocupado.

E de vez em quando espalha uma tristeza tão triste que tudo o mais se cala.

Também pode não ser nada , só um silêncio-pausa que fica distraidão, na dele.

Quando está bem tranquilo, desliga de verdade, medita e sai voando por aí na maior calma. Mas tem que prestar atenção porque tem uns silêncios que são diferentes e fazem questão de aparecer: raivoso ou muito magoado, o silêncio fala tão alto que qualquer um pode escutar.



Silvana Tavano

Bom dia!



A árvore acordou arrepiada
Sacundido a coberta-garoa de pingo fininho
Logo levou lambida de vento frio
Anunciando o dia sem visita de passarinho
Mesmo assim espreguiçou os galhos
Balançou as folhas e não se encolheu
Feliz de ser árvore, sorriu para o inverno
E amanheceu


Silvana Tavano

Aparências



Rosa de pano
Maçã de cera
Jóia de vidro

Muitas coisas iludem
O olhar distraído

Silvana Tavano