quarta-feira, 5 de julho de 2006

Minha obra

Pinceladas de barro cor da pele cobrem minhas cicatrizes como um carinho.
Todas as manhãs antes de me iludir com a vida,
lavo no escuro adocicado minhas pequenas pupilas e escorrego o sabão nos cílios da pequena boneca.
Cubro a alma com uma pitada de lápis nas sobrancelhas finas,
faço as ficarem bem grossas com o perfil de misteriosa...
Minhas mãos já sabem de cor a forma de cada olheira...
Profundas de tanta chuva que tomou,
é como se cobrisse minha alma todas as manhãs,
é como se a mim só eu conhecesse...
Quando estou definitivamente uma pintura de Basquiat,
olho-me no espelho e o que vejo?
Um touro, uma donzela, um inseto, uma traça, um sonho!
Não sei bem se vejo ou deliro, mas crio coragem e abro a porta.
Quase sempre venta e lacrimeja.
Coloco a bagagem nas costas,
e de costas me olho mais uma vez no espelho.
Sim, agora estou pronta!

Mensageiros do destino me perdoem, tenho pressa, saiam da frente!
Que meu cansaço derrete meu barro e a escultura cai.
Tenho pressa... minha vida é passageira e meu escudo de pele ???, moldado por cicatrizes.
Quando chego em casa, sento, tiro os sapatos, calço minha essência e choro. Quando a obra facial se desfaz, coloco as mãos sobre o rosto e sorrio, acendo uma vela, abro a torneira e lavo a minha alma, agora nua.

Bárbara Paz

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