Sonha, poeta!
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O sonho é o entorpecente,
O mais sublime tóxico do mundo,
A morfina ideal do teu viver
Sonha um sonho infinito, azul, profundo,
Indefinidamente,e esquece a vida que tu tens presente
Pela vida maior que há no teu Ser!
Esquece tudo, o próprio mundo esquece,
E esquece a tua vida, porque a tua vida
Vale mais se a souberes fazer grande
E cada vez maiorna tua exortação.
Se o teu destino é estranho e é diferente,
Se não nasceste igual a toda gente,
Ensina o canto livre e a vida nova
Aos Prometeus da Razão!
Faze tu mesmo, o teu próprio Universo,
Tua terra.Teu céu.Tua vida.Teu verso.
E o Universo dos homens que te importa então?
Sê louco! Que a loucura é essa subidade pequenez restrita da verdade
À grandeza infinita da Ilusão!
O teu sonho não traz o pedestal na terra,
Teu espírito é assim como um condor boiando
Nos espaços azuis.
Sobe, devassa os céus, de lado a lado,
Vê se existe algum poeta, além, por outros mundos,
Esse poeta que à noite escreve com as estrelas,
Não tendo ao solo acorrentado os pés!
Sonha, poeta!
Eu quero ver-te aflito
Sacudir os teus braços na amplidão
a ferir com teus dedos o Infinito
E ao baixar tuas mãos,
De novo ao vê-las,
Hás de exclamar, tenho-as de ouro e lilás;
E olhando para o céu
Verás o céu sangrandode estrelas,
E as tuas mãos, a transbordar estrelas
Assombrado verás!
Não trouxeste o destino de arrastara tua ânsia na terra
Onde os homens pregados vão de rastros.
Solta a tua alma azul no espaço azul,
Os teu sonhos semelham-se a bandeiras
Fremindo ao vento no cordel dos mastros!
Vai brincar com os cometas sem destino
E conversar com os astros!
Sonha! Que este sonhar só bem te faz!
Sê sempre o mesmo:Um louco!Um incomum!
Não te sujeites a domínio algum,
E que o teu sonho não acabe mais!
J.G. de Araujo Jorge