quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O poema me levará no tempo


Quando eu já não for eu

E passarei sozinha

Entre as mãos de quem lê

O poema

Alguém o dirá

Às searas

Sua passagem se confundirá

Como rumor do mar

Com o passar do vento

O poema habitará

O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes

Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará

Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas

De funda e devorada solidão

Alguém seu próprio ser confundirá

Com o poema no tempo





Sophia de Mello Breyner Andersen