Serenata
E todas as vezes que brigavam, ele convocava seus amigos para
que na janela dela pudesse dos seus erros se redimir.
Na viola o acompanhava o moço de dedos longos.
Na voz, já que a sua era a mais feia que qualquer ouvido já ouviu,
estava King Kong, que pelo apelido já se imagina a qualidade de voz.
E mesmo diante a reclamações dos vizinhos, cães latindo,
crianças chorando, com seu caderno com letras de seresta seguia ele:
"Elvira escuta
os meus gemidos
aos seus ouvidos
irão chegar."
Xingam lá nos apartamentos , mas ele segue cantando:
"Não sejas traidora
tem dó de mim
tem dó dest'alma
que te sabe amar."
A mulher de temperamento forte joga um líquido morno lá do alto.
"É licor espanhol", disse o apaixonado homem.
=
"Ela sabe que adoro licor espanhol."
"Tenho minhas dúvidas." disse o violeiro.
Ele enfiou o dedo molhado na boca e provou:
"É licor espanhol."
"Eu não diria que é licor."
"Então o que é?"
"Licor eu sei que não é."
"Venha tirar a teima, King Kong.
=
Prova este precioso líquido e diz se é licor."
"Licor não é não, doutor."
"É o que estou suspeitando, King Kong?"
King kong faz um movimento de cabeça confirmando.
Lambendo os dedos o homem apaixonado diz:
"Urina de amada, licor é."
=
Texto adaptado do livro
Os Mortos não Dançam Valsa de Roberto Drummond
1 comentário:
E se não for da amada? (sorrindo)
Muito bom o texto.
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