domingo, 26 de abril de 2009

Mercado de trocas


Troco um passarinho na gaiola

Por um gavião em pleno ar

Troco um passarinho na gaiola

Por uma gaivota sobre o mar

Troco um passarinho na gaiola

Por uma andorinha em pleno vôo

Troco um passarinho na gaiola

Por uma gaiola aberta, vazia


Roseana Kligerman Murray

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ainda assim...



Sinto às vezes que
Me entristece o amor
Que sinto por ti
E penso que ele é
Tal e qual uma luz forte
Que tudo obscurece
E cega-me e assusta-me
E deixa-me assim
Como que triste
Mas nem por isso
Menos apaixonada
Nem por isso menos feliz

Luís Ene

Quando encontrar um poeta

que coloque em ordem de palavras os seus sentimentos,

também irá encher seu blog com ele.

Bichinho de Jardim


O jardim não se apaixona por um único visitante

Mas uma flor sim...

De mansinho


Chegaste
com a tua tesoura de jardineiro
e começaste a cortar:
umas folhas aqui e ali
uns ramos
que não doeram…


Eu estava desprevenida
quando arrancaste a raiz.



Yvette K. Centeno

domingo, 19 de abril de 2009

Sentir...


A Música, assim como a Poesia

Torma mais curta a distância

Entre as pessoas



Com elas se pode sentir o toque...

Amor


Te amar

Dá vida a minh'alma

As palavras


As palavras

Não são janelas

Nem portas

Nem muros

As palavras


São apenas palavras

Janelas, portas, muros


Sem dentro nem fora que

Ao mesmo tempo

Nos revelam

E nos escondem

O mundo



Luís Ene

Palavras


São tão estranhas as palavras

E a relação

Que com elas tenho



A palavra silêncio

Por exemplo

Só a digo para mim mesmo

Em pensamento


Quanto à palavra grito

Simplesmente

Evito dizê-la

Por educação



Já a palavra amor

Só quando te beijo

Meu amor

Faz todo o sentido




Luís Ene

Traição


“É verdade que me trais?”,

Perguntou-lhe ela,

E ele respondeu que não, sem hesitações, sem mesmo pensar.

Se havia uma coisa que nunca faria era trair-se a si mesmo.



Luís Ene

Olhar


“Por que me olhas tão intensamente?”,

Perguntou ela,

E ele despertou finalmente do seu sonhar acordado.



Luís Ene

Perguntas


“Porque nunca me perguntas nada?”,

disse-lhe ela, e ele olhou-a, interrogativamente.
=
Luís Ene

Ás vezes são feitas as perguntas,
nem sempre do jeito que esperamos ou que gostaríamos,
mas são feitas.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Reencontro !


Como numa fotografia

O cabelo pintado de ouros vários

Olhar perdido além das vidraças

O casaco, as calças e até a mala de um mesmo azul

Tudo nela dizia melancolia

Mas, de repente

Toda ela se iluminou num sorriso

Ou terei sido eu?



Luís Ene

Flor


Olho uma flor,

Recorda-me de ti.

Apetece-me colhê-la,

Mas não o faço.

Quando quero estar contigo,

Visito-te no meu jardim.



Luís Ene

Palavras


Cada palavra que escrevo

Emociona-me e faz-me pensar.

Mas não escrevo porque

Me emociono ou penso.

Escrevo tão só

Porque em cada palavra há

Pelo menos uma emoção

Há pelo menos uma idéia

Mesmo que eu não saiba

Que emoção e que idéia são.

Escrevo afinal

Porque me emociona

Porque me faz pensar.

Não se escrevem emoções

Não se escrevem pensamentos

Escrevem-se apenas palavras.





Luís Ene

Felicidade


Um dia, quando a ternura for a única regra da manhã,

Acordarei entre os teus braços.

A tua pele será talvez demasiado bela.

E a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.

Um dia, quando a chuva secar na memória,

Quando o inverno fôr tão distante,

Quando o frio responder devagar

Como a voz arrastada de um velho,

Estarei contigo

E cantarão pássaros no parapeito da nossa janela.

Sim, cantarão pássaros, haverá flores,

Mas nada disso será culpa minha,

Porque eu acordarei nos teus braços e nao direi nem uma palavra,

Nem o princípio de uma palavra,

Para não estragar a perfeição da felicidade.



José Luís Peixoto

Simples


Quem me dera

Escrever com a simplicidade desconcertante

De uma flor!



Luís Ene

Para calar meu silêncio


por não encontrar palavras

dou brilho ao olhar

enfeito o sorriso e

te espero

fico à espera

que sejas tu a calar o silêncio

Bem dizer


Tudo muda

Quando um verso rebenta

Nos lábios

Certos



Gil T. Sousa

Quem tem o Mar no Sangue


Era um pequeno povo nômade de pescadores.

Onde quer que fosse, levava consigo o mar.



Victor González

domingo, 12 de abril de 2009

Páscoa !


Páscoa lembra minha vó,
e ela vivia cantando em voz baixinha essa música !
=
Que nenhuma família

Comece em qualquer de repente

Que nenhuma família

Termine por falta de amor

Que o casal seja um para o outro

De corpo e de mente

E que nada no mundo

Separe um casal sonhador


Que nenhuma família

Se abrigue debaixo da ponte

Que ninguém interfira

No lar e na vida dos dois

Que ninguém os obrigue

A viver sem nenhum horizonte

Que eles vivam do ontem, no hoje

E em função de um depois


Que a família comece

E termine sabendo onde vai

E que o homem carregue nos ombros

A graça de um pai

Que a mulher seja um céu de ternura

Aconchego e calor

E que os filhos conheçam a força

Que brota do amor


Que marido e mulher

Tenham força de amar sem medida

Que ninguém vá dormir

Sem pedir ou sem dar seu perdão

Que as crianças aprendam

No colo o sentido da vida

Que a família celebre

A partilha do abraço e do pão


Que marido e mulher não se traiam

Nem traiam seus filhos

Que o ciúme não mate

A certeza do amor entre os dois

Que no seu firmamento

A estrela que tem maior brilho

Seja a firme esperança

De um céu aqui mesmo e depois


Que a família comece

E termine sabendo onde vai

E que o homem carregue nos ombros

A graça de um pai

Que a mulher seja um céu de ternura

Aconchego e calor

E que os filhos conheçam

A força que brota do amor


Abençoa, senhor, as famílias! Amém!

Abençoa, senhor, a minha também.

Padre Zezinho

O Amor


Ser adulto estafa,

A recolher os brinquedos escondidos na areia

Sem ao menos ter brincado.

O amor é insuportavelmente tolo.

Quem não é tolo não permite carícias.

O amor não cansa de caminhar como a luz,

Não cansa de barulho como a chuva,

Não cansa de repetir as lembranças como o fogo.


Morro por amor, mas não morro o amor.



Fabricio Carpinejar

Estrada Nova




..............

Reticências


Desse momento escarlate
Quero a flor, o beijo, o chocolate, o riso
O gozo, a lua, a borboleta
O caracol, o mi-bêmola alfazema
Pra quando o vermelho ficar esmaecido
Eu poder conservar meu colorido
Nas reticências úmidas de algum poema


Flora Figueiredo

Um que continua no Outro


Temos a mesma pele.

É isso que nos impele a sermos um, sendo dois.

Amar é ter a mesma pele,

O resto vem depois.

(E não falo da cor, que é indiferente no amor).


Torquato da Luz

Eternidade


Mas como descrever
A sensação de eternidade
Quando sinto junto ao meu
Teu coração bater?



Fernanda Guimarães

sábado, 11 de abril de 2009

Ouvir o próprio Corpo !


Nosso corpo fala, sinaliza, nos diz o tempo todo que algo não vai bem, mas faz isso de forma muitas vezes discreta. E essa linguagem discreta teria grande diferença em nossas vidas se fosse dado a devida importãncia, mas a realidade é que ignoramos, não prestamos atenção quando o corpo fala de como está nosso estado físico e emocional.

Negligenciamos um sinal de cansaço e continuamos arduamente a trabalhar, sentimos uma dor e preferimos tomar um analgésico a tentar perceber o porquê dessa dor.E quantas vezes sentimos dor de alma e calamos sem enfrentar o problema.

“...o corpo molda-se a partir de uma carga genética, através de experiências, sentimentos, emoções, recordações e pensamentos. Guarda os seus segredos até os querermos decifrar e não se cansa de nos dar pistas na forma de sintomas, que é a sua maneira de falar.”
"A Memória Corporal" de Luz Casanovas.

O tempo vai passando e dia após dia, o corpo retém as agressões que vai sofrendo desde o stress, o desgaste físico até uma má nutrição, a nossa desatenção aos sinais manifestados, desencadeiam em pouco tempo, situações de desiquilíbrio físico e emocional que poderiam ser evitados se fosse dado a devida atenção a esta forma de linguagem.

Ouvir o próprio corpo querer mais do que atenção, querer sabedoria !

E não custa tentar sermos mais sábios e atentos com esse amigo que não quer outra coisa a não ser o nosso bem.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Todo !!


Sempre desprezei as coisas mornas,

As coisas que não provocam ódio nem paixão,

As coisas definidas como mais ou menos,

Um filme mais ou menos ,

Um livro mais ou menos.

Tudo perda de tempo.


Viver tem que ser perturbador,


É preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados,

E com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco,

Sua adoração ou seu desprezo.

O que não faz você mover um músculo,


O que não faz você estremecer, suar, desatinar,

Não merece fazer parte da sua biografia.


Trecho de "O Divã"
Martha Medeiros

Para Fazer a Saudade Sorrir


Faz música pra mim

E coloca em envelopes fechados por língua morna.

Faz versos nas costas da lua.

Dedilha nossos desafinos.

Na areia da praia anoitecida, deita minha ausência

E colhe os ruídos.

Oferece na concha das mãos. Segredos.

Canta baixinho e grita desespero para abafar

O silêncio das pausas.

Desatina mariposa, asas de procura nos meus olhos acesos.

Desenha em ponta de agulha sobre a pele

E assina o nome por baixo.

Criptografia.

Espera.

Até ouvir meu riso com gosto de maçã

A provocar cócegas na saudade.

Ele faz música e promessas bordadas em luzes de amor.

Eu sangro.



Ane Aguirre

domingo, 5 de abril de 2009

Estradas de Papel

À margem de minhas
Estradas de papel
É que planto meus lírios
Oferto aos peregrinos
Meus papiros
Minhas púrpuras
Minhas rosas
Meus delírios




Altino de Castro

Infinito


O amor é a fusão de opostos

Cheio de sentir-sofrer-sorrir

Que nos engole num abismo

E nos faz experimentar o infinito.



Fábio Farias

Sem Paixão


Sem paixão

Os versos desandam

O corpo emudece

O olhar, escurece

E minha alma

Enferma, grita



Fábio Farias