segunda-feira, 15 de junho de 2009

Feitiçaria


Não. Não escrevo o que sou

Escrevo o que não sou

Sou pedra. Escrevo pássaro

Sou tristeza. Escrevo alegria

A poesia é sempre o reverso das coisas

Não se trata de mentira

É que nós somos corpos dilacerados

O corpo é o lugar onde moram as coisas amadas que nos foram tomadas

Presença de ausências, daí a saudade

Que é quando o corpo não está onde está



O poeta escreve para invocar essa coisa ausente

Toda poesia é um ato de feitiçaria

Cujo objetivo é tornar presente e real

Aquilo que está ausente e não tem realidade


Rubem Alves

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