Feitiçaria
Não. Não escrevo o que sou
Escrevo o que não sou
Sou pedra. Escrevo pássaro
Sou tristeza. Escrevo alegria
A poesia é sempre o reverso das coisas
Não se trata de mentira
É que nós somos corpos dilacerados
O corpo é o lugar onde moram as coisas amadas que nos foram tomadas
Presença de ausências, daí a saudade
Que é quando o corpo não está onde está
O poeta escreve para invocar essa coisa ausente
Toda poesia é um ato de feitiçaria
Cujo objetivo é tornar presente e real
Aquilo que está ausente e não tem realidade
Rubem Alves
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