sábado, 31 de julho de 2010

Né?


Se a gente não fosse feita para ser feliz

Deus não teria caprichado tanto nos detalhes



Ana Jácomo

Intacta


Não é raro tropeço e caio

Ás vezes, tombo feio de ralar coração todinho

Claro que dói, mas tem uma coisa

A minha fé continua em pé



Ana Jácomo

Cada dia


Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último
O último para esquecer tolices. O último para ignorar o que, no fim das contas, não tem a menor importância. O ultimo para rir até o coração dançar. O último para chorar toda dor que não transbordou e virou nódoa no tecido da vida. O último para deixar o coração aprontar todas as artes que quiser. O último para ser útil em toda circunstância que me for possível. O último para não deixar o tempo ecoar inutilmente entre os dedos das horas


Ana Jácomo

Para dentro


É preciso diminuir a barulheira

Parar de fazer perguntas e de imaginar respostas

Aquietar um pouco a vida

Para simplesmente deixar o coração nos contar o que sabe

E ele conta

Com a calma e a clareza que tem



Ana Jácomo

Cada vez mais


Se sonhar pouco é perigoso

A solução não é sonhar menos

É sonhar mais

Marcel Proust

Gota de Chuva


Há tanta água no Oceano

Que se deixa evaporar

Pelo único prazer de voltar a ser gota de chuva



Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 29 de julho de 2010

E elas estão por aí...


Quantas vezes deitada

Me ponho a considerar

Que condão eu pediria

Se uma fada um belo dia

Me quisesse a mim fadar

Antero de Quental

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Tá?

......................

Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Eu vou denunciar a sua ação nefas-
Você amarga o mar, desflora a flores-
Por onde você passa, o ar você empes-
Não tem medida a sua ação imediatis-
Não tem limite o seu sonho consumis-
Você deixou na mata uma ferida expos-
Você descora as cores dos corais na cos-
Você aquece a Terra e enriquece à cus-
Mas do que vale tal riqueza? Grande bos-
Parece que de neto seu você não gos-
Você decreta a morte, a vida indevis
Você declara guerra à paz por mais bem quis-
Não há em toda fauna, um animal tão bes-
Mas já tem gente vendo que você não pres-
Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Bom entendedor, meia palavra bas-
Bom entendedor, meia palavra bas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Eu vou denunciar a sua ação nefas-
Você amarga o mar, desflora a flores-
Por onde você passa, o ar você empes-
Não tem medida a sua ação imediatis-
Não tem limite o seu sonho consumis-
Você deixou na mata uma ferida expos-
Você descora as cores do coral na cos-
Você aquece a Terra e enriquece à cus-
Mas do que vale tal riqueza?Grande bos-
Parece que de neto seu você não gos-
Você decreta a morte, a vida indevis-
Você declara guerra à paz, por mais bem quis-
Não há em toda fauna animal, um tão bes-
Mas já tem gente vendo que você não pres-
Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Bom entendedor, meia palavra bas-
Bom entendedor, meia palavra bas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas ta?



Carlos Rennó / Pedro Luís / Roberta Sá

Mariana Aydar

domingo, 25 de julho de 2010

Conforto na alma


O que dá trabalho mesmo é viver sempre do mesmo jeitinho
Pois eu quero mais dessa maluquice que me ajuda a reinventar maneiras de se estar aqui
Porque para se estar aqui com um pouco que seja de conforto na alma há de se ter riso
Há que se ter fé. Há que se ter a poesia dos afetos
Há de se ter um olhar viçoso. E muita criatividade



Ana Jácomo

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Lembranças


Quando eu era pequenina e espiava o mundo pelas grades do portão, via sempre um véinho passando, gritando:
- Ói algodão!
Um dia, resolvi sair e pegar a fila das crianças. Fiquei esperando o véinho transformar açúcar em nuvens, açúcar em mágica, em pedaços de carinho. Quando ficou pronto, mal podia acreditar! Peguei o algodão nos dedos e perna-pra-te-catar!
Lá de longe, o véinho gritou:
- Ô, o dinheeeeeeiro?
Eu virei e respondi:
- Não, vô! Num picisa de dinheiro, não! Só o algodão-doce já tá ótimo! Só o algodão-doce tá bão!
O véinho deu risada e logo respondeu:
- É mesmo, né ? Só o algodão-doce já tá ótimo! Só o algodão-doce tá bão! "


Rita Apoena

Bailando


No dia em que o moço canta, canta o dia com o moço

E quando o violão ele toca, brilha no céu a estrela

Eu vi o moço tocar, amei o moço no olhar

E a voz dele e o violão fazem de mim bailarina

Cada parte do corpo se agita

Sol, faz em mim nascente, não tem Dó de mim, não tem

Me toca também, e girando vou La, Si...



Karla Thayse

Cogumelos


Conheço um planeta onde há um sujeito vermelho, quase roxo

Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela
=
Nunca amou ninguém

Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia todo repete:

“Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!”

E isso o faz inchar-se de orgulho

Mas ele não é um homem

É um cogumelo

Antoine de Saint-Exupéry

O mesmo sempre diferente


Ela entrou no ônibus. Sentou-se. Ligou sua música, e foi.
Todo dia, no caminho, a menina ia cantado, mesmo que sem som.
Gostava sempre de reparar as pessoas, e notava que, normalmente, todas pareciam ter a mesma expressão facial de "nada".Foi quando o Sol começou a mágica brincadeirinha de se esconder, e encheu a visão de cores e o coração de sonhos e esperança. Alguns pássaros surgiram passarinhando em "V" em direção ao Sol. Os olhos da menina queriam acompanhá-los até lá, até o final, e assim fizeram, não desgrudaram um minuto dos belos pássarinhos que iam em perfeita sincronia em direção ao céu colorido.Foi quando a menina se deparou com um daqueles olhares de "nada", o qual ela imaginava não mais existir depois de tão belo espetáculo bem a frente de todos os olhos presentes naquele caiminho. Porém, lá estavam eles. Todos os olhares vagos e tristes, em especial o de uma mulher.Um olhar de quem julgava louca a menina que se curvou toda pra ver um pôr-do-sol e uns pássaros: coisa que se vê todo dia.


Rita Apoena

Que faça a diferença


O mundo precisa é de gente feliz, capaz de doar um pouco de si e do que sabe

Capaz de fazer a diferença na vida

Meus braços não são do tamanho do mundo

Mas foram feitos no tamanho exato de abraçar alguém




Rita Apoena

domingo, 18 de julho de 2010

Doce e urgente


Numa dessas noites frias
Voltei a ser menina que queimava a língua sem paciência de esperar o chocolate esfriar

Às vezes o passado reaparece assim:
Um gosto doce e urgente



Silvana Tavano

A menina que roubava livros


Os melhores sacudidores de palavras eram os que compreendiam o verdadeiro poder delas.
Eram os que conseguiam subir mais alto.
Um desses sacudidores era uma menininha magricela.
Ela era famosa como a melhor sacudideira de palavras da sua região, porque sabia o quanto uma pessoa podia ficar impotente sem palavras. Por isso, ela se mostrava capaz de subir mais alto que qualquer outra pessoa.



Markus Zusak

Livros


Os leitores extraem dos livros, consoante o seu caráter

A exemplo da abelha ou da aranha que do suco das flores retiram

Uma o mel

Outra o veneno



Nietzsche

Poderoso


Para mim poderoso não é aquele que descobre o ouro

Poderoso para mim é aquele que descobre

As insignificâncias do mundo

E as nossas

Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil

Fiquei emocionado e chorei

Sou fraco para elogios



Manoel de Barros

Para se viver


Bem mais do que coragem

Há de se ter também muito amor



Ana Jácomo

Na vida


A vida tem uma sabedoria que nem sempre alcanço
Mas que eu tenho aprendido a respeitar
Cada vez com mais
Fé e liberdade



Ana Jácomo

Acredito


Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo
Eu tiro um arco-íris da cartola
E refaço. Colo. Pinto e bordo

Porque a força de dentro é maior
Maior que todos os ventos contrários
É maior porque é do bem
E nisso, sim, acredito até o fim





Cris Carvalho

Tempo


Que mesmo depois de muito tempo
A gente possa olhar e sorrir
Mesmo sem saber por quê



Caio Fernando Abreu

sábado, 10 de julho de 2010

Viagem


Cruzo a ponte invisível que abre caminho entre as nuvens

E entro num túnel do tempo que me leva pra longe

Onde tudo é novo e até as coisas de sempre parecem diferentes

Outro céu, outra terra e, eu também, outra


Silvana Tavano

Receita


Pensamento apressado

Sai pela boca e fica gago

Sai pelos dedos e se escreve atropelado

Sai pelos olhos e acaba embaçado



Porque pensamento é como bolo

Tem que cozinhar um tempo no forno

Crescer, cheiroso, dentro da fôrma

Pra sair, delicioso, e ainda morno



Silvana Tavano

Caminhos


-Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
-Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato
-Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice
-Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas.


Alice no País das Maravilhas

Sensibilidade


Sabe o que eu quero de verdade?!
Jamais perder a sensibilidade
Mesmo que às vezes ela arranhe um pouco a alma
Porque sem ela não poderia sentir a mim mesma

Clarice Lispector

Quero


Quero uma primeira vez outra vez

Quero ter sensações inéditas

Até o fim dos meu dias



Martha Medeiros

Florescem


Na região luminosa do coração

Florescem as rosas da alma

E condensam-se na imagem do ser



Minh'alma



Não, minha alma não está dormindo


Está desperta, bem desperta


Não dorme, nem sonha


Obeserva


Tem olhos bem abertos


Longe


E escuta

À margem dos grandes silêncios



Antonio Machado

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Caminho pro interior




A manhã nasceu lá fora
O meu tempo é mesmo agora
Já vesti a roupa colorida
Na cabeça vem aquele verso
Sobre o meu novo universo
A canção que é minha preferida
Nesse rio sei andar na beira
Desvario é essa cachoeira
Trilha subindo a mata
A vista que me arrebata

Essa estrada me chamou
Eu vou
Caminho pro interior

Quaresmeira se encheu de flores
Já calcei o velho tênis
Não tirei nosso bóttom da mochila
Ter de novo sua mão na minha
A razão por que andou sozinha
Nem sei mais, um sentimento não vacila
Escutei sua voz no vento
Coração salta no meu peito
Estou de alma lavada
Não chove mais na minha estrada
Seu olhar já me chamou
Eu vou
Caminho pro interior
Seu olhar já me chamou
Eu vou
Caminho pro interior

Otávio Toledo / Ana Caram

domingo, 4 de julho de 2010

Pensamento


Ai, doce pensamento meu

Quando me levarás

Onde te envio eu



Romancero General

Céu


Queria aprender o alfabeto das nuvens

Para poder ler tantas histórias que vejo passar

Silvana Tavano

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Florzinha Danada


Florzinha bonita, que coisa inesperada
Que ideia foi essa de brotar assim do nada?


E eu lá tenho ideia? Foi puro acaso!
Mas é melhor estar aqui do que num vaso


Levei um susto, afinal, sou uma calçada
E, aqui, uma flor pode acabar pisotada!


Ai, ai, ai! Ai de mim
Por que não nasci num jardim?


E pensar que você saiu de uma rachadura
Quanto tempo será que você dura?


Ai! Não precisa ser tão indelicada
Não vê que eu já estou machucada?


Florzinha bonita, não fique magoada
É que estou gostando de ser enfeitada!


Então deixa de ser dura e ranzinza
Você já não é uma calçada cinza


Florzinha bonita, você é danada
Consegue amolecer até o coração de uma calçada!


Silvana Tavano

Guardados


Como quando se tira um vestido velho do baú

Um vestido que não é para usar, só para olhar

Só para ver como ele era

Depois a gente dobra de novo e guarda
=
Mas não se cogita em jogar fora ou dar

Acho que saudade é isso



Lygia Fagundes Telles

Para que nada se perca


A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido

Pela intimidade que temos com elas



Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores

Do que as outras pedras do mundo

Justo pelo motivo da intimidade



Sou hoje um caçador de achadouros da infância

Vou meio dementado e enxada às costas

Cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos...


Manoel de Barros

"Achismo"


-É possível um rio secar completamente?

- Claro que é.

- Mas será que ele não enche depois? Nunca mais?

-Alguns sim, outros não.

-Mas nunca mais?

Sei lá, acho que não.

-Você tem certeza?

- Certeza eu não tenho. Só estou dizendo que acho.

Afinal não sou nenhuma especialista em matéria de rios.

-Sabe?

-O quê?

-Eu tinha esperança que o rio voltasse a encher um dia.


Caio Fernando Abreu

E lá fora o mundo gira


Deitar-se com uma mulher e dormir com ela

Eis duas paixões não apenas diferentes, mas quase contraditórias

O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor

(esse desejo se aplica a uma multidão inumerável de mulheres)

Mas pelo desejo do sono compartilhado

(esse desejo diz respeito a uma só mulher)




Milan Kundera