quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Do signo de libra


Embora continuem as dúvidas
Sobre os termos e sentidos
Não deixo de escrever
Ler e reler a história de mim
Um dia eu interpreto

Queira mas não me entenda
Não busque saber cada detalhe
Compreenda meu gosto
Pelo mistério de ser eu


Sou do signo de libra
E a profecia do papel de bala
Diz que não suportamos análises
A liberdade é minha bandeira


Tenho uma parte que é só poesia
Por outros meios não me revelo
Só essa arte me desvenda



Alessandro Vaz

Quando a resposta não tem importância


Aproximou-se, em silêncio arrancou todas as rosas

Ao arrancar a última pergunta à roseira

_ Se importa?



Lido em algum lugar e a imagem me fez lembrar

Diz


O que quer dizer, diz

Não fica fazendo

O que um dia, eu sempre fiz

Não fica só querendo, querendo

Coisa que eu nunca quis

O que quer dizer, diz

Só se dizendo num outro

O que, um dia, se disse

Um dia, vai ser feliz



Leminski

Todos são de amor


Sim, todos os poemas são de amor

Pela rima, pelo ritmo

Pelo brilho ou por alguém

Alguma coisa que passava

Na hora que a vida virava palavra



Alice Ruiz

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Eu sinto


Desculpe

Eu não entendo

Eu sinto

Muito



Chez Carina


Tantas foram as vezes que situações me fizeram ter saudade e vontade de ser novamente aquela menina de olhos vivos, atentos a tudo. Que mais falava pelos olhos do que pela boca. Que tinha medo, muitos, mas queria entender tudo, queria absorver o mundo, como se assim ele se tornasse amigo. A menina que tentava agir como gente grande por parecer mais seguro.

Sensata e quieta, que tinha na cabeça grandes aventuras. Dona de uma imaginação que apesar de, sempre me salvou de crescer antes da hora.

A inventora de histórias e brincadeiras, onde um pano sobre algo tornava-se casa e os dóceis animais domésticos sofriam mutações e transformavam- se em monstros. E dentro da imaginação não precisava de nada que não fosse criado por si mesma. E assim a infância passou divertida.

Talvez por isso não consiga esperar muito, o esperar me limita. Não que isso seja comodismo ou passividade, mas é que o mundo é tão grande dentro da minha cabeça, tudo continua tão grandioso e eu tentando crescer para estar segura. Tentando entender o mistério de ser criança, de ser grande, de ser gente.

Chuva


Uma tarde dessas o céu escureceu, as nuvens pareciam pesadas, quase todas a ponto de desabarem em sua forma vista, o vento anunciava chuva. Esperava e queria tanto essa chuva, fiquei feliz. Ansiosa olhava a todo momento pela janela, mas o céu contrariou minha vontade e ficou limpo, azul novamente, só sendo substituído por um céu negro estrelado. Água nenhuma caiu.

Dia seguinte, sem nenhum anúncio, choveu. Mais do que feliz, tive a certeza de que por mais que se espera e queira algo, tudo tem seu tempo e muitas coisas não controlamos. Acontecem, cedo ou tarde e muitas vezes quando menos se espera.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Farsa


Me esforço para ser fácil

E me finjo de difícil

Mas me dou de graça

Para quem descobrir minha farsa



Zeca Baleiro / Lúcia Santos

Nila Branco


Só me dói morrer se não for de amor



Gabriel Garcia Márquez

domingo, 22 de agosto de 2010

Hoje não!


Amanhã fico triste

Amanhã

Hoje não. Hoje fico alegre!

E todos os dias por mais amargos que sejam eu digo:

Amanhã fico triste, hoje nao!


Poema encontrado na parede de um dos dormitórios de crianças
no campo de extermínio nazista de Auschwitz

sábado, 14 de agosto de 2010

Primordial


Que as dificuldades que eu experimentar ao longo da jornada

Não me roube a capacidade de encanto



Ana Jácomo

Românticos


Só o romântico diz que não vai amar mais
Fabrício Carpinejar

Amor e relações

-Só sei que nos amamos muito!-Porque você está usando o verbo no presente? Você ainda me ama?
-Não, eu falei no passado!
-Curioso, né? É a mesma conjugação.
-Que língua doida! Quer dizer que nós estamos condenados a amar para sempre?
-E não é o que acontece? Digo, o amor nunca acaba, o que acaba são as relações!
-Pensar assim me assusta.
-Porque, você acha ruim isso?
-É que nessas coisas de amor eu sempre dôo demais!
-Você usou o verbo doer ou doar?
Pausa
-Pois é, também dá no mesmo!!



Gian Fabra

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

As mágicas do amor


Era uma vez um camponês feio

Que se tinha apaixonado

Por uma princesa linda

Um dia a princesa - vá lá saber-se porquê

Deu um beijo no camponês feio

E, magicamente, este transformou-se

Num príncipe esbelto e ataviado

(Pelo menos era assim que ela o via)

(Pelo menos era assim que ele se sentia)



Jorge Bucay

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Almas


Como é por dentro de uma outra pessoa?

A alma de outrem é outro universo

Não sabemos da alma

Senão da nossa

As dos outros são olhares

São gestos, são palavras

Com a suposição de qualquer semelhança



Fernando Pessoa

Ismália


Quando Ismália enlouqueceu
Pôs-se na torres a sonhar
Viu a lua no céu
Viu a lua no mar


No sonho em que se perdeu
Banhou-se toda em luar
Queria subir ao céu
Queria descer ao mar
E no desvario seu
Na torre pôs-se a cantar
Estava perto do céu
Estava longe do mar


E como anjo pendeu
As asas para voar
Queria a lua do céu
Queria a lua do mar
As asas que Deus lhe deu
Rufaram de par em par
Sua alma subiu ao céu
Seu corpo desceu ao mar



Alphonsus de Guimarães

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A lenda da caverna



Diz a lenda que uma mulher pobre com uma criança nos braços, passando em frente de uma caverna, ouviu uma voz misteriosa dizendo:" Entra e pegue o que quiser, mas não esqueça da coisa principal."A mulher entrou na caverna e encontrou muitos tesouros. Fascinada pelo ouro e jóias colocou a criança no chão, e começou a juntar, ansiosamente, tudo o que podia no avental. A voz misteriosa falou novamente:"Você só tem oito minutos !"Exausta depois de oito minutos, a mulher carregada de ouro e pedras preciosas, correu para fora da caverna e a porta se fechou.Só então lembrou que a criança estava lá dentro, e a porta se fechou para sempre. A riqueza durou pouco,e o desespero, para o resto de sua vida.

Por isso, não esqueça o principal!
*
Antonio Mariano Osório

domingo, 8 de agosto de 2010

Sentimentos


A música é capaz de reproduzir em sua forma real

A dor que dilacera a alma

E o sorriso que inebria



Ludwig van Beethoven



Perder as pétalas


O maior medo da rosa é despetalar

Porém, é por desfolhar-se que não tem fim

Encontro das águas


O amor é como o encontro das águas

Une diferentes tão iguais

E não mata

Porque o seu proposito é tão somente saciar

Aconchego


As palavras não me pertencem, elas pertencem ao vento

Eu apenas as assopro e elas seguem o seu destino

Ás vezes caem e se perdem no abismo, outras vezes

Encontram aconchego em um coração vazio


Hermeto

Delicado de flor


-Amizade nossa foi curta, mas foi pra sempre, Zé.
- Ó minina, e foi das mió. Daquelas que já num tem muito uso hoje em dia. É pedra que num gasta, e é tomém delicado de flor. Amizade nossa é palavra que num sei dizê, sei sentir só. Mas vai embora duma veiz, vai. Me deixa aqui e me leva no seu coração!
Hoje é dia de Maria

Amizade


-Vortô pra ficá né?
-Não, acho que minha sina é sempre caminhá.
- Tu carece é di criar raíz, minina.
-Num fala assim, Zé, eu sinto qui andei, andei e num cheguei a lurgá nenhum, sinto que um tanto de coisa eu perdi e um tanto di coisa eu num consegui achá...Vivê é assim mermo Zé? Andança sem pará Zé? Parece tudo sonho. Vivê é isso, Zé? E o amô Zé, quando é di verdade? E filicidade, Zé, quando é de verdade?
-Ói, a filicidade é o contrai do amô né? A filicidade...
-E na vida, Zé, o que vem depois da morte?
-Num sei. A gente só sabi perguntá, num sabe responder não.
-Acho que meu distino é sempre fazer o caminho di vorta. Adeus Zé!
-Mas será pussivi minina que nossa sina seja sempre si dispidi.
-É não Zé! Nossa sina é sempre si incontrá.

Hoje é dia de Maria

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Música

Palavras

You are very proud, you go you suffer!
Coco avant Chanel

Real e belo


Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que tentara pegar na bunda do vento.
Mas o rabo do vento escorrega muito e eu não consegui pegar.
Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso carinhoso para mim e não disse nada.
Meus irmão deram gaitadas me gozando.
O pai ficou preocupado e disse que eu tivera um vareio de imaginação.
Mas que esses vareios acabariam com os estudos. E me mandou estudar em livros
Eu vim. E logo li alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio
E dei de estudar pra frente. Aprendi a teoria das idéias e da razão.
Especulei filósofos e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande saber.
Achei que os eruditos nas suas altas abstrações se esqueciam das coisas simples da terra.
Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo, o Albert Einstein). Que me ensinou esta frase:
"A imaginação é mais importante do que o saber!"
Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira.
Botei um pouco de inocência na erudição. Deu certo.
Meu olho começou a ver de novo as pobres coisas do chão mijado de orvalho.
E vi borboletas. E meditei sobre as borboletas.
Vi que elas dominam o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no corpo (essa engenharia de Deus!)
E vi que elas podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as próprias asas.
E vi que o homem não tem soberania. Não, não tem !
E percebi que com imaginação meu mundo é muito mais real e mais próximo do que realmente é, ou deveria ser. Belo!

Manoel de Barros

domingo, 1 de agosto de 2010

Riso de tudo


É que eu gosto do riso de tudo

De flores. De gente. De bichos

Dos dias de céu azul lisinho

Das noites carregadas de cachos de estrelas

Da canção que as ondas cantam quando tocam a areia

Às vezes, eu vejo até o riso contido do que não tem coragem de rir



Ana Jácomo

Estrelas


Mergulhada de cabeça em um mundo que não havia verdade, apenas ilusão, estive perto do que não sabia. Porém, nada dura uma eternidade, a não ser enquanto dure. E senti falta da verdade. Verdade que amadurece e fica escandalosamente doce quando o dia amanhece. E que alimenta para todo sempre.
Estive em um mundo azul de cor falsa, que mentia para distrair e, mal ou nem percebia que, mentir amor é enganar a si próprio. O falso azul foi-se desbotando e lembrei do mundo verdadeiro, ao menos para mim, onde o céu não tem estrelas a base de conta gotas. Não, lá o céu é feito de enxuradas delas. Estrelas que não existem apenas para enfeitar, e não se pintam de lindas cores apenas para seduzir, lá estão e com elas posso conversar. E foi numa dessas noites de lindas conversas que uma delas veio me contar que estava ali para reacender o coração de quem de azul falso havia cansado, e que se permitisse poderia voltar a ter o Criador todas as noites em meu sono e sonhos, banhando de graça os meus pensamentos verdadeiros.