O açúcar
Nesta manhã de Ipanema
Não foi produzido por mim
Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre
Vejo-o puro
E afável ao paladar
Como beijo de moça,
Água na pele, flor
Que se dissolve na boca
Mas este açúcar
Não foi feito por mim
Este açúcar veio
Da mercearia da esquina e
Tampouco o fez o Oliveira Dono da mercearia
Este açúcar veio
De uma usina de açúcar em Pernambuco
Ou no Estado do Rio
E tampouco o fez o dono da usina
Este açúcar era cana
E veio dos canaviais extensos
Que não nascem por acaso
No regaço do vale
Em lugares distantes
Onde não há hospital
Nem escola, homens que não sabem ler
E morrem de fome aos 27 anos
Plantaram e colheram a cana
Que viraria açúcar
Em usinas escuras, homens de vida amarga
E dura
Produziram este açúcar
Branco e puro
Com que adoço meu café nesta manhã
Em Ipanema
Ferreira Gullar
2 comentários:
Excelente.
Nunca tinha lido nada do autor.
Boa semana.
Beijos.
Oi linda, anda meio sumida, senti falta de suas postagens.
Boa semana
Bjsss
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