segunda-feira, 24 de setembro de 2007
domingo, 23 de setembro de 2007
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
Tu, que me esvaziaste de coisas incertas,
e trouxeste amanhã da minha noite.
(...)
ensinaste-me a sermos dois;
e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um
apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide.
Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo,
ouvir a tua voz que abre as fontes de todos os rios,
mesmo esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido de irmos contra o tempo,
para ganhar o tempo que o tempo nos rouba.
(...)
Tu: a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti,
até ao fundo do mundo que me deste.
Nuno Júdice
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Espaço Curvo e Finito
Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças
E ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe,
Um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.
José Saramago
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Indivisíveis
O meu primeiro amor e eu sentávamos numa pedra
Que havia num terreno baldio entre as nossas casas.
Falávamos de coisas bobas,
Isto é, que a gente achava bobas
Como qualquer troca de confidências entre crianças de cinco anos.
Crianças…
Parecia que entre um e outro nem havia ainda separação de sexos
A não ser o azul imenso dos olhos dela,
Olhos que eu não encontrava em ninguém mais,
Nem no cachorro e no gato da casa,
Que tinham apenas a mesma fidelidade sem compromisso
E a mesma animal - ou celestial - inocência,
Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu:
Não, não importava as coisas bobas que diséssemos.
Éramos um desejo de estar perto, tão perto
Que não havia ali apenas duas encantadas criaturas
Mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra,
Enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se, não sabia
Que eles levariam procurando uma coisa assim por toda a sua vida…
Mário Quintana
terça-feira, 18 de setembro de 2007
Nenhum homem é uma ilha isolada;
cada homem é uma partícula do continente,
uma parte da terra;
se um torrão é arrastado para o mar,
a Europa fica diminuída,
como se fosse um promontório,
como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria;
a morte de qualquer homem diminui-me,
porque sou parte do gênero humano.
E por isso não perguntes por quem os sinos dobram;
eles dobram por ti.
John Donne
domingo, 16 de setembro de 2007
Mestre Cartola
Trovadores, os cancioneiros de poesias conjugadas com a música, que enaltecia o amor ou fazia criticas à comportamentos da sociedade.
E no dia 11 de Outubro de 1908 nascia no Rio de Janeiro, no bairro do Cadete o "trovador"Angenor de Oliveira, o Cartola.Que só se deu conta de que seu nome não era Agenor e sim Angenor quando estava providenciando os documentos para o seu casamento.
Homem simples que ao longo de mais de cinco décadas construiu um dos legados musicais mais importantes do cancioneiro nacional.
Foi no morro da Mangueira, depois de ficar viúvo e se recuperar de uma fase nada boa de saúde, que Cartola conhece e começa a namorar dona Euzébia Silva do Nascimento, conhecida carinhosamente por dona Zica, com quem viveu até morrer no dia 30 de Novembro de 1980 no Rio de Janeiro.
Em sua vida, Cartola compôs, sozinho ou em parcerias, cerca de quinhentas canções. Seus principais parceiros: Elton Medeiros, Carlos Cachaça, Noel Rosa e Dalmo Castello.
Tamanha é a grandeza de seus versos e melodias que até hoje essas músicas são regravadas por vários intérpretes,
Em sua vida, Cartola compôs, sozinho ou em parcerias, cerca de quinhentas canções. Seus principais parceiros: Elton Medeiros, Carlos Cachaça, Noel Rosa e Dalmo Castello.
Tamanha é a grandeza de seus versos e melodias que até hoje essas músicas são regravadas por vários intérpretes,
Paulinho da Viola, Ney Matogrosso, Beth Carvalho, Alcione, Marisa Monte , Chico Buarque, Leny Andrade e Cazuza.
O apelido Cartola surgiu na época que trabalhava como pedreiro.Vaidoso usava um chapéu coco para evitar que seus cabelos ficassem sujos.
Cartola dizia ter 3 paixões, Dona Zica, Mangueira e a música.
O Mestre Cartola compôs e cantou o amor como ninguém.
http://www.nossosite2.biz/NeyMatogrosso/Peito_Vazio.mid
O apelido Cartola surgiu na época que trabalhava como pedreiro.Vaidoso usava um chapéu coco para evitar que seus cabelos ficassem sujos.
Cartola dizia ter 3 paixões, Dona Zica, Mangueira e a música.
O Mestre Cartola compôs e cantou o amor como ninguém.
http://www.nossosite2.biz/NeyMatogrosso/Peito_Vazio.mid
Peito Vazio
Nada consigo fazer
Quando a saudade aperta
Foge-me a inspiração
Sinto a alma deserta
Um vazio se faz em meu peito
E de fato eu sinto
Em meu peito um vazio
Me faltando as tuas carícias
As noites são longas
E eu sinto mais frio.
Procuro afogar no álcool
A tua lembrança
Mas noto que é ridícula
A minha vingança
Vou seguir os conselhos
De amigos
E garanto que não beberei
Nunca mais
E com o tempo
Essa imensa saudade que sinto
Se esvai
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
O Haver
Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido.
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã
Dos que não tiveram ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada.
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo,
e esse medo Infantil de ter pequenas coragens.
Vinicius de Moraes
domingo, 9 de setembro de 2007
Às vezes é preciso destravar portas,
abrir todas as janelas,
deixar o vento entrar,
destravar os cintos da insegurança
e decolar para assistir a terra de luneta,
comer pipoca sentado na lua,
escorregar pelas pontas das estrelas,
dançar no ventre das nuvens,
sonhar em outros planetas
e dar muitas risadas com os cometas.
Às vezes é preciso ficar só
Com um papel e uma caneta
para colorir o coração
e colocar mais alegria no viver
e se encantar com a felicidade
e não se esquecer dos sonhos!
Major Robson Rodrigues da Silva
sábado, 8 de setembro de 2007
O Príncipe Desconhecido
Tu também, ó Princesa,
na tua fria alcova olhas as estrelas
=
que tremulam de amor e de esperança!
Mas o meu mistério está fechado comigo,
O meu nome ninguém saberá!
Não, não, sobre a tua boca o direi,
=
Quando a luz resplandecer!
E o meu beijo destruirá o silêncio que te faz minha!”
Puccini
Puccini
Tu tens um medo
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.Na dúvida.No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.Na tristezaNa dúvida.No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.E se vai, ele mesmo.
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
O que tu viste amargo,
Doloroso,Difícil,O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos
Enganados
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor
E tudo que era efêmero
se desfez.
E ficaste só tu,
que é eterno.
Cecília Meirelles
Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz.
Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos magros
e meu coração ficavacompletamente feliz.
Às vezes abro a janela
e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes
encontro nuvens espessas.
Avisto crinças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abreme fecham os olhos,
sonhando compardais.
Borboletas brancas, duas a duas,
como refelectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega.
Às vezes um galo canta.
Às vezes umavião passa.
Tudo está certo, no seulugar, cumprindo o seu destino.
E eu mesinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante decada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem diante das minhas janelas,
e outros, finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
Assim como amo
Assim como amo as flores e os ares da primavera,
E a imensidão do mar entardecendo com o dia.
Assim como amo caminhar descalça no verde latejante da grama,
E adormecer sobre a sombra e sob as flores de uma cerejeira.
Assim como amo todas as multicores de um arco-íris
E os dias que chovem e que me trazem inspiração.
Assim eu te amo, com a mesma leveza e encanto,
Com a mesma doçura de um raro canto.
Assim eu te amo, porque o amor é esta mesma delicadeza,
De um saber viver por si só como a natureza.
Carine
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
A Flor e o Espinho
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh'alma à sua
O sol não pode viver perto da lua
É no espelho que eu vejo a minha mágoa
É minha dor e os meus olhos rasos d'água
Eu na tua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em seu amor
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh'alma à sua
O sol não pode viver perto da lua
Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
Mário Cesariny
terça-feira, 4 de setembro de 2007
Dedicado à Você
Vem
=
Se eu tiver você no meu prazer
=Se pudesse ficar com você
=Todo o momento, em qualquer lugar
=Ah!
=Se no desejo você fosse o amor
=Durante o frio fosse o calor
=Na minha lua, você fosse o mar
=Vem, meu coração se enfeitou de céu
=Se embebedou na luz do teu olhar
=Queria tanto ter você aqui!
=Ah! se teu amor fosse igual ao meu
=Minha paixão ia brilhar, e eu
=Completamente ia ser feliz!
Dominguinhos
domingo, 2 de setembro de 2007
Amores
Ao amor conhecido:
tempo infinito
Ao amor não correspondido:
tempo perdido
Ao amor esquecido:
tempo parado
Ao amor dolorido:
tempo acabado
Ao amor não brotado:
tempo esperado
Ao amor interrompido:
tempo doído
Ao amor necessário:
tempo descompassado
Ao amor sem vazão:
tempo atrasado
Ao amor a murchar:
tempo difícil
Ao amor que senti:
tempo sem igual
Paulo de Tarso Fontoura
Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma.
Alberto Caeiro
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