quarta-feira, 31 de outubro de 2007


Sua boca

Uva rubra

Roça meus lábios

E por segundos

Somos murmúrios úmidos

Seiva cósmica

De línguas

Púrpuras



Virgínia Schall

Querência


Quero uma mulher serena dentro de mim.

Quero o simples de Marias.

Quero a força de Helenas.

Quero um Rouxinol.



Cobbett


Poucos também me entendem

Sou mar alto, agitado, tenebroso

Sou marola calma, refrescante brisa

Mas quando o inverno me atinge

Fico estática, medrosa

Sendo fria defendo a voz

Sendo gelo aprisiono o espanto
=
Adélia Thereza Campos

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Tristeza


Botou a tristeza na coleira

E saiu para dar uma volta no quarteirão.

Porque tristeza,

Se fica muito tempo sem passear,

Acaba mordendo a gente.

André Gonçalves


"Sigo palavras e busco estrelas..."
=
Herbert Viana

domingo, 28 de outubro de 2007


Ás vezes, penso que um relógio não deveria ter ponteiros

Deveria ter pernas

Quem sabe o tempo andasse mais depressa


Mas, às vezes, penso que um relógio não deve mesmo ter pernas

Deveria ser réptil!

Quem sabe se arrastasse com menos pressa


No final das contas, penso que o tempo deveria mesmo

É ser menos egoísta e deixar de pensar só em si mesmo.

Porque tem horas que ele tem certeza que é o coelho de Alice

E, em outras,

O danado cisma que é Caymmi.
=
André Gonçalves


Somos as escolhas que fazemos,

o que vivemos depois

são as conseqüencias destas escolhas.


Alguém disse,
e com certeza deveria saber o que estava dizendo


Hoje não estou aberta a explicações, nem minhas, nem de ninguém.

O dia foi consagrado às sensações e impulsos, não à racionalização.

Hoje o que importa é intuir, não planejar; sentir, não pensar.

Contente me abandono aos braços do dia e ele me recebe

misto de mãe e berço, útero a céu aberto.

Sem mais perguntas, ele me leva para passear.

(...)

só hoje não ofereceria resistência

e ele encontraria o povo nas ruas
=
lhe estendendo as mãos cheias de flores.



Patricia Antoniete

sábado, 27 de outubro de 2007


- Amor?
- Oi...
- Beija meu umbigo?
- O umbigo?
- É.
- Porquê?
- É que de repente me deu uma vontade tão grande de esquecer do mundo...
=
André Gonçalves

Até as "grandes" pessoas devem também ter

Porque quem ama tem medo de perder



“E que a força do medo que eu tenho,

não me impeça de ver o que anseio.

Porque metade de mim é amor
=
e a outra metade também!”


Osvaldo Montenegro


Terceira à esquerda. Segunda à direita. Segue em frente.
=
Passa pelo orelhão.
=
Quando vir um sorriso à sua direita, você dobra.

Quatro quarteirões. Olha pra cima.

Se tiver uma nuvem, você espera ela passar.

Se não tiver, entra depressa. Uma porta branca.

Estreita, tem de se esforçar um pouco. Aí, só subir a escada.

Mil, novecentos e vinte e sete degraus. Aí chega no trampolim.

Abra os braços,
=
pra se equilibrar bem, que um tombo agora pode ser fatal!

Lá embaixo, uma piscina. Vermelha.
=
Vermelha porquê? Ué, porque sim, ora!

A água é quentinha, vai gostar. Mais divertido se pular de cabeça.

Respira fundo antes, que leva um tempo pra você voltar à tona!

Mas volta. Aí, umas braçadas. É preciso fôlego...

Vai nadar aí por um bom tempo.

Mas é gostoso, a água quentinha não te deixa ficar dolorido.

Não, não tem fundo, não dá pra descansar.
=
Faz o seguinte: de vez em quando você bóia.
=
Põe a barriga pra cima e bóia. Igual criança.

Se o céu estiver escuro, pode ir se preparando.
=
Vai precisar ter força.

Mas passa. Não dá pra se afogar, só assusta um pouco.
=
Continua nadando.

Só duas possibilidades de chegada: abismo ou praia.

Se chegar na praia, melhor. É um lugar bonito.

Relaxante. Tomara que seja.

Se for abismo, vai doer. Mas passa.

Dependendo do peso da sua alma,
=
você vai cair por alguns minutos, algumas horas.

Tem gente que cai por anos.
=
Dizem por aí que tem gente que nunca mais pára de cair.

Mas é lenda. É, não chega a ser perigoso, assim, perigooooooooso...

Mas assusta. Tá, é perigoso, sim... Mas e o que não é?

Depois? Ah, sei lá... Você vai decidir.

O que eu sei é que você vai ter vontade de começar tudo de novo.

Vai, segue em frente. Sem medo. Bota um sorriso na cara e vai.

Anda! Vai!

Boa sorte.

Qualquer coisa, liga. Tchau.


André Gonçalves

quinta-feira, 18 de outubro de 2007


Em caso de tristeza vire a mesa

Coma só a sobremesa

Coma somente a cereja

Jogue para cima, faça cena

Cante as rimas de um poema

Sofra apenas, viva apenas

Sendo só fissura, ou loucura

Quem sabe casando cura

Ninguém sabe o que procura

Faça uma novena, reze um terço

Caia fora do contexto, invente seu endereço

A cada milágrimas sai um milagre



Itamar Assumpção



Os olhos são indiscretos;

Revelam tudo que sentem,

podem mentir os teus lábios,

os olhos, esses, não mentem.



Florbela Espanca


Era coração,
=
aquele escondido pedaço de ser
=
onde fica guardado o que se sente e o que se pensa
=
sobre as pessoas das quais se gosta?
=
Devia ser.
=
Caio Fernando Abreu

sábado, 13 de outubro de 2007

À La Claire Fontaine

Na fonte límpida

Fui passear

A água era tão linda

Que resolvi me banhar

Vou te amar eternamente

Jamais te esquecerei

Sob um carvalho

Enquanto eu me secava

No galho mais alto

Um Rouxinol cantava

Vou te amar eternamente

Jamais te esquecerei

Cante, Rouxinol, cante!

Seu coração quer sorrir

O meu quer chorar

Que está fazendo?

Vou te amar eternamente

Jamais te esquecerei

Perdi o meu amor

Sem merecer

Por um buquê de rosas

Que eu lhe neguei

Vou te amar eternamente

Jamais te esquecerei

Eu queria que a rosa

Ainda estivesse no galho

E que meu amor

Ainda gostasse de mim

Eu vou te amar eternamente

Jamais te esquecerei

Não vou te esquecer assim

Desconheço o autor

sábado, 6 de outubro de 2007


Para aquecer-te os lábios

Mas se amo os teus pés

é só porque andaram

sobre a terra e sobre

o vento e sobre a água,

até me encontrarem.


Neruda


Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,

que já tem a forma do nosso corpo.

E esquecer os caminhos que nos levam aos mesmos lugares.

É o tempo da travessia.

E se não ousarmos fazê-la teremos ficado para sempre

à margem de nós mesmos.



Fernando Pessoa

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

A casa

=Do som do mar

quinta-feira, 4 de outubro de 2007


Lá vai o sol, tão raivoso e tão primeiro,

Firmando-se orgulhoso pela rua,

Lembrando de esquecer daquela lua

Que nem lua foi pra ele por inteiro.

Lá vai a lua se fazendo rancorosa,

Minguando às vistas em se saber vazia,

Sem se dar o perdão que merecia,

Perdendo de poesia a sua prosa.

No caminho de esquecer-se se lembrando,

O olhar dele um trapézio machucado,

O olhar dela um deserto abandonado

Por amores que perdeu antes buscando:

E se perdem um do outro ao se perderem

No perdão que a si não dão por mais sofrerem.



Ana Paula Manga


Sou homem:

duro pouco e é enorme a noite.

Porém olho para cima:

as estrelas escrevem.

Sem entender compreendo:

também sou escritura

e neste mesmo instante alguém me soletra.


Octavio Paz

quarta-feira, 3 de outubro de 2007


Nem sempre consigo sentir
=
o que sei que devo sentir.
=
Alberto Caeiro



Quando uma estrela cai do firmamento


Deixa um rasto de luz que apenas dura


O decorrer de um breve momento


E, fica a noite ainda mais escura.



Também do céu do nosso pensamento


Partem estrelas, às vezes, à procura


De novos caminhos


E, no olhar atento


Descobrem caminhos em pedra dura.


=

Desconheço o autor


A casa da saudade chama-se lembrança:
=
é uma cabana pequeninha que abriga e aquece o coração.

terça-feira, 2 de outubro de 2007


Eu quero a sorte

de um amor tranquilo

com sabor

de fruta

mordida...

Cazuza

Naquela Mesa


http://www.nossosite2.biz/AntigosSucessos/NelsonGoncalves/Naquela_Mesa.mid
=
Naquela mesa ele sentava sempre

E me dizia sempre o que é viver melhor

Naquela mesa ele contava histórias

Que hoje na memória eu guardo e sei de cor

Naquela mesa ele juntava gente

E contava contente o que fez de manhã

E nos seus olhos era tanto brilho


Que mais que seu filho

Eu fiquei seu fã

Eu não sabia que doía tanto

Uma mesa num canto, uma casa e um jardim

Se eu soubesse o quanto dói a vida

Essa dor tão doída, não doía assim

Agora resta uma mesa na sala

E hoje ninguém mais fala do seu bandolim

Naquela mesa tá faltando ele

E a saudade dele tá doendo em mim.



Letra de Sérgio Bittencourt

homenagem a seu pai

Jacob do Bandolim


Natureza

em plena declaração de Amor...


Era uma vez...

Uma garotinha de roupa colorida,

que de tristeza pensava que a cor já não trazia mais alegria.

Passeando pela estrada afora,

avistou Sorriso correndo com medo da Lágrima Tristonha.

Sorriso esbarrou na garotinha que sentia dor de tristeza,
=
e cairam no chão.

Lágrima Tristonha em vez de aproveitar e maltratar Sorriso,

se condoeu com a garotinha.

Olharam-se por um longo tempo as três...

Sairam de mãos dadas, Sorriso e Lágrima Tristonha,

cantando caminho afora.

Garotinha ficou sem dor...

Sorriso olhou para trás,
=
ainda de mãozinhas dadas com Lágrima Tristonha

e sorriu feliz para a garotinha.

Garotinha da roupa colorida e Sorriso ficaram amigas

e vira e mexe colhem flores coloridas no Bosque da Saudade...