O amor impossível é o amor verdadeiro
(...)
O amor cria momentos em que temos a sensação de que a
"máquina do mundo" se explica, em que tudo parece parar num arrepio,
como uma lembrança remota.
E não falo aqui dos grandes momentos de paixão, dos grandes orgasmos,
dos grandes beijos - eles podem ser enganosos.
Falo de brevíssimos instantes de felicidade sem motivo,
de um mistério que subitamente parece revelado.
Há, nesse amor, uma clara geometria entre o sentimento e a paisagem,
como na poesia de Francis Ponge, quando o cabelo da amada se liga
aos pinheiros da floresta ou quando o seu brilho
se une com o sol entre os ramos das árvores e tudo parece decifrado.
Mas não se decifra nunca, como a poesia.
O amor é uma tentativa de atingir o impossível,
se bem que o "impossível" é indesejado hoje em dia;
só queremos o controlado, o lógico.
O amor anda transgênico, geneticamente modificado, fast love.
(...)
Arnaldo Jabor
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