sábado, 31 de outubro de 2009
Luz
Eu caminhava pela floresta, que estava coberta de sombras
Me sentia pequenina como um galho ou folha
Deitei-me na terra úmida e senti seu coração pulsar junto ao meu
Percebi que estávamos unidas pela mesma vida
As árvores me abraçavam feito mãe
O céu me protegeu
E vaga-lumes me cercavam de todos os lados
E descobri que fomos gerados no mesmo ventre
Que para além do corpo, do rosto ou da pele
Há somente luz...
Evelyn Zayden
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
De olhos fechados
E poder ter a absoluta certeza de que esse alguém
Também pensa em mim quando fecha os olhos
E que faço falta quando não estou por perto
Mário Quintana
terça-feira, 27 de outubro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Ser criança
Vida.
Inocência.
Reflexo de felicidade.
Inicio de uma caminhada através da própria existência.
Desejar tudo que vê.
Pureza.
Ser criança.
Viva Intensamente
Charles Chaplin
Ele acordou, ela ...
Eu tenho pés chatos e piso em falso, ela enxerga duplo e aprecia em dobro
Eu danço fora da música, ela dança com a música de dentro
Eu não sei fazer churrasco, ela faz de conta que não precisa
Eu não uso aspas, ela usa chapéu na praia
Eu leio estirado como uma chama, ela lê com as pernas dobradas
Eu compro o fútil, ela compra o necessário
Eu me perco em lugares abertos, ela se perde em lugares fechados
Eu falo sem parar, ela ouve sem dormir
Eu prefiro estacionar nas esquinas, ela me centra
Eu compro jornal, ela é quem lê
Eu escapo dos deveres, ela paga guardador de carro
Eu me visto sem olhar, ela corrige o que não vi
Ela não fica doente, eu adoeço quando estou nervoso
Ela pensa em tudo, eu penso o que não sobra
Eu extravio nomes, ela extravia rostos
Eu não guardo telefones, ela memoriza a lista
Eu não canto, ela me legenda o som
Eu erro na pronúncia, ela é vento simultâneo
Depois do prazer, fico com insônia, depois do prazer, ela quer dormir
Eu tenho um porão de lembranças, ela tem um sótão
Eu entro nas recordações pelos fundos, ela entra pela frente
Eu me alumbro com a mentira, ela se deslumbra com a verdade
Eu não me repito, ela imita sotaques
Eu faço amigos rápido, ela exige convivência
Eu compro as verduras que não prestam, ela cansou de me ensinar
Eu não sei contar piadas, ela não gosta de piada
Eu imagino, ela desabafa
Eu fico calmo na tristeza, ela explode de raiva
Eu alimento pressentimentos, ela confia em fatos
Ela pede desculpas, eu continuo acusando
Eu peço desculpas, ela já esqueceu
Eu sinto ciúmes de velhos amores, ela sente ciúmes de novos amores
Eu vejo a dor como uma trégua, ela observa a dor como uma lacuna
Eu me interesso pelo objeto quando o perco, ela se interessa quando o reencontra
Eu sou obcecado, ela é cautelosa
Eu sou perfeccionista, ela é comovida
Eu improviso, ela planeja
Eu fujo do aniversário, ela ensaia o seu com antecedência
Eu puxo sua cadeira, ela me seduz de lado
Eu sou uma cidade de baixo, ela é a cidade vista de cima
Eu me vingo, ela perdoa
Eu sou passional, ela pacifica
Eu me hospedo quando ela viaja, ela reside em minhas viagens
Eu acredito em Deus, Deus acredita nela
Eu rezo ao sair de casa, ela reza ao chegar
Eu escalo árvores, ela rega relâmpagos
Nenhuma noite é como as outras, as outras noites são dias inventados
Nossa risada se bate no escuro
Carpinejar
Tatuagem
domingo, 25 de outubro de 2009
Cores
E o primeiro passo para essa iluminação é
Ame cada novo dia
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Não falta nada
Partir, andar, eis que chega
Eu não quis
Não quis
Hebert Vianna
domingo, 18 de outubro de 2009
Poder ser
Todas as neuroses, todas as inseguranças, toda a parte feia e real
Que todo mundo quer esconder
Ninguém nunca me viu tão nua e transparente como você
Ninguém nunca soube do meu medo de
Nadar em lugares muito profundos, de amar demais, de se perder
Um pouco de tanto amar, de não ser boa o suficiente
Só ele viu meu corpo de verdade
Meu choro baixinho embaixo da coberta
Só para ele eu me desmontei inteira porque confiei que ele
Ser leve
Eu sou sim a pessoa que some, que surta, que vai embora, que aparece do nada, que fica porque quer, que odeia a falta de oxigênio das obrigações, que encurta uma conversa besta, que estende um bom drama, que diz o que ninguém espera e salva uma noite, que estraga uma semana só pelo prazer de ser má e tirar as correntes da cobrança do meu peito.
E espera impaciente ser salva por uma metade meio interessante que me tire finalmente essa sensação de perna manca quando ando sozinha por aí.
Eu só queria ser legal, ser boa, ser leve.
Mas dá realmente pra ser assim?
Vá em frente
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Para nadar
Não há quem não feche os olhos ao beijar, não há quem não feche os olhos ao abraçar
Fechamos os olhos para garantir a memória da memória
É ali que a vida entra e perdura, naquela escuridão mínima, no avesso das pálpebras
Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar a barca ao calor do remo
O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio. Os cílios se mexem como pedais da memória
Experimenta-se uma vez mais aquilo que não era possível
Viver é boiar, recordar é nadar
terça-feira, 13 de outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
Acreditar para encontrar
Respirou fundo, sorriu
Ficou pensando em quem poderia convidar para ir com ela ao País das Fadas
Alguém de que gostasse muito e também acreditasse
Sorriu ainda mais quando, sem esforço
Lembrou de uma porção de gente
Esse convite agora está sempre nos olhos dela:
Quem acredita sabe encontrar
Não garanto que foi feliz para sempre
Mas o sorriso dela era lindo quando pensou todas essas coisas
Perfeitos
Que sentimentos são coisas passíveis de serem controladas
Eles simplesmente vêm e vão, não batem na porta, não pedem licença
Invadem, machucam, alegram
São imprevisíveis e sua única regra é a inconstância total
É irônico que justamente por isso
Eles sejam tão perfeitos
Caio F. Abreu