domingo, 28 de junho de 2009

Quando é ele a contar...

-Há uma lenda que diz que um monstro terrível e verde, vivia a assombrar vilarejos no século passado...
E que ele sumia no meio da noite...e ninguém sabia pra onde ele ia...
O que ninguém sabia, é que ele dormia num jardim antigo, perto de uma vila que ele já havia assustado tanto, que ninguém mais morava lá, e nem perto de lá...
E nesse jardim, havia somente uma flor...

-"Espinhuda" ?- perguntou ela curiosa e atenta.
-Sim, uma rosa...mas os espinhos eram pequeninos e não machucavam a espessa pele do monstro.
-Êta, monstro forte!!
-Não, feio e da pele espessa mesmo...
Dizem que ele dormia bem pertinho dessa flor...que ficava lá, admirando...
Tão terrível e amedrontador...
Mas diante da florzinha ele parecia demosntrar uma certa ternura...


-Viu, ele é bonzinho!
-Não, ela é que não se assustava com ele...
-Nem podia, um monstro que gosta de jardim nem é mostro...é monstrinho..
-E todas as noites, ele esperava o orvalho cair sobre ela e suas pétalas se fecharem...
Assim que elas se fechavam, ele dormia...
-E ela dormia com ele?
-Pois é, tadinha, não podia correr...
-Mas nem acho que ela quisesse correm, porque tipo assim...
Se ela não gostasse era só ele chegar e ela ia logo espinhando ele...
-Não, flor é flor, nem vem...
Fica ali, lindinha e cheirosa...
-Flor é flor, mas flor também tem personalidade...e algumas nem dá pra chamar de personalidade é de gênio mesmo.
-O monstro é que era terrível, e com língua de cobra e tudo mais...
Mas de manhã, ao acordar, ele esperava as pétalas se abrirem...


-Viu o monstrinho tem coração, daí que ele é bonzinho...
monstro ruim é os que têm um oco no peito....
E ela abria as pétalas pra ele?
-O sol que fazia isso...ela era uma florzinha indefesa, cheirosa e lindinha, não se esqueça...
-Hum...tô começando a achar que essa floriznha aí é uma fingida, viu?....enganando até o contador de histórias...
-Então, depois daquele momento bucólico, ele saía pela floresta e espantava todos que lá estavam...
-Botava medo em todos?
-As pessoas é que se assustavam facilmente com a aparência dele.
E com as coisas que ele dizia.
-O quê ele dizia?
-Várias coisas más...
-Hum... Que monstrinho danado...deve ser só pra fazer onda...

-Até no msn e em e-mails, ele era assim...
-Bem moderno esse monstro.
-Ah é, era no século passado...
-Então...

-Mas ele escrevia cartas com pena e tinta... (arrumou o contador)
Pois chegou uma época em que ele jamais foi visto novamente...
-O que houve com ele?
-Ninguém sabe...
Ele simlesmente sumiu...
-Tem mesmo os monstrinhos que somem...
Simplesmente somem....
-Mas a história não terminou...
-Mas se ele sumiu....história só de flor não tem muita graça...
-Calma...
-Tá...
-Um dia, algumas crianças, brincando muito longe de casa...entraram no jardim onde ele costumava dormir...
E lá estava a rosa...
-Sozinha?
-Somente ela...Sozinha...
-Hum, que triste, sabia que rosa sozinha orvalha até em pleno sol?
-Uma das meninas, a retirou com cuidado da terra e a colocou numa pequena garrafa...
E voltaram pra casa...
-E ela morreu?
-Não...essa menina sabia mexer com plantas, e a plantou em seu jardim, ao lado da pequena casa onde morava...
-E lá tinha um monstro pra fazer companhia pra rosa?
-Calma...
Um dia a menina disse para a mãe...
"Mamãe tem um monstro dormindo toda noite lá fora, debaixo da minha janela!!!"
E a mãe dela disse... "Minha filha, eu já te disse, monstros não existem, vá dormir! "
-Mãe é tudo igual.
-E ela se acostumou com a presença do monstro lá, todas as noites...
Porquê ele não fazia nada, só deitava ao lado da rosa e dormia...
-Não te falei que ele era bonzinho?
-Ninguém sabe...
O quê se sabe, é que a rosa o acalmava e o fazia dormir...
-Sabe sim...te explicar...
Monstros só são monstros porque assim o chamam, mas eles também amam monstras que são monstras porque assim as chamam...

-Há quem diga que o monstro amava a rosa...
E que foi o amor que o transformou...
Que o acalmou...
E que o fez dormir...
-Mas dizem que amor só dá certo quando são iguais...

-O amor é ainda mais selvagem que o monstro e a rosa...
Ele aparece onde quer...
Mexe com quem ele quiser...
E ninguém é capaz de vencê-lo...

O amor não aceita ser manobrado...
Nem usado...
Ele é soberano...
Só aceita que durmam em seu enorme véu...

Aceita servir de abrigo...
Mas não deixa que o transformem...
Que o mudem...
Nem mesmo que duvidem dele...

Ele simplesmente existe...
Nada nem ninguém pode moldá-lo...
Há quem diga, também, que ele é Deus...
-Ningém pode moldá-lo, mas ele molda as pessoas, até os mosntros se transformam com ele, né?
-Isso, e isso explicaria nossa incapacidade de alterá-lo ou usá-lo...
E sim, até o monstro verde, ama...
Ele te ama... E gostaria muito de não ser um monstro e e não te assustar...

-Não é o monstro que assusta, mas muitas vezes é ele o assustado...
-Não, ele não tem medo de nenhum espinhozinho...
Nada tira dele a alegria de ver a rosa abrir suas pétalas...
E sorrir pra ele...
-Uma vez a rosa apaixonada, sempre apaixonada...
-Ele troca tudo, pra ver a rosa sorrir...
Esquece até que é um monstro...
-A rosa sorri só em vê-lo...
-E é isso que dá força pa ele viver, mesmo sendo um monstro...
E por incrível que possa parecer, ele também chora...
A verdade é que ele é um monstro bobo pra caramba.
-Dessa parte a rosa não gosta...porque se tem uma coisa que deixa rosa murchinha é ver o mosntro amado triste...ela é até capaz de sumir do jardim só pra que ele não chore.
-Não, ele chora porquê é sensível demais e bobo.
Se emociona até com histórias.
-Vai ver é isso que fez a rosa tão boba de amor por ele...


E quando monstro e flor se encontram, não há aparência, não há espinhos que os impeçam de amar, porque amor é assim, simplesmente chega e quando chega transforma o mundo e as pessoas.

História contada por B.P. com enxeridos pitacos de Kisstina

Pequeno jardim


Guardei para você
Num verso de porcelana
As flores da manhã



Eolo Yberê Libera

Sol


Nos olhos de quem ama

Vive um sol que brilha

Vinte e quatro horas do dia

Sussurro


Noite no templo

Do alto da montanha

Posso levantar a mão

Acariciar as estrelas

Mas não ouso falar

Em voz alta

Receio assustar

Os habitantes do céu



Li Bai

Lealdade


Lealdade é uma atitude muito mais ampla

E mais comprometida do que a fidelidade

Ser leal é estar junto, é brigar por, é dar o ombro

É dividir alegrias e tristezas, é não julgar

É ter a liberdade de estar sem precisar ter

É cumprir sem prometer, é voltar sem ter ido

A lealdade não exige reciprocidade, nem exclusividade

Também não estabelece gênero ou número

Nem admite meio-termo: a gente é leal ou não é


Euza Noronha

Campo de trigo


Quando acariciei o teu dorso, campo de trigo dourado

Minha mão ficou pequena como uma flor de açucena

Que delicada desmaia sob o peso do orvalho

Mas meu coração cresceu e cantou como um menino

Deslumbrado pelo brilho estrelado dos teus olhos





Thiago de Mello

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Pra sempre...

...quando o assunto é música, dança e vídeo clip, ele é um gênio...



sábado, 20 de junho de 2009

Sonhos


Chegou, nos olhos o doce que é o que mais me encanta, e perguntou:
- Conta-me uma história?
Sentei-te no meu colo, e comecei a voar na imaginação.
Conte-te uma pequena história onde o bom sonho faz cócegas nos olhos de quem dorme.

Os teus olhos brilhavam como se cócegas sentisse e pesados fecharam-se.
Embalei-te.
Tu dormis-te.
Eu continuei a sonhar.

Então...


Sentada perto de um lago, ela nada dizia mas seus pensamentos a levavam para longe.
Foi quando um pequeno sapo pulou em seu colo, ela num susto jogou-o distante.
-Não tenha medo, sou feio mas não mordo.
-Sei que não morde, foi só o susto.
E já beijei tantos outros iguais à você, que nem é medo o que tenho.
-Beijas-te?
-Sim. Uma boa fada me falou que quando encontrasse um sapo, beijasse e em um lindo príncipe se transformaria.
-E não foi o que aconteceu?
Sim, foi. Todos eles eram lindo.

Mas com o tempo todos eles acabavam de alguma forma voltando a ser um sapo,
mesmo no corpo de príncipe.
O pequeno sapo sorriu, e de olhos baixos, como quem não gostou do que acabou de ouvir, disse:
-E por esse motivo, nem devo pedir para que me beije?
-Ah, sapinho, posso até berjar-te, mas já sei no que vai dar.
-Sabe? O diferente sempre pode acontecer, sabia?

O que não deve é deixar de acreditar na magia, e a magia só acontece quando nela se acredita, caso contrário ela se perde no meio do caminho.
Vai ver é isso que tem acontecido, ou então, não é essa a magia que te compete.
-Não é essa, e qual seria então?
-Por que não me beija?
Ela sorrindo:
-Sapinho oportunista, o que queres é ser beijado, por isso tenta despertar em mim essa curiosidade de que o diferente pode acontecer.
-Beija?
Ela, pegou o pequeno e gelado ser, de olhos fechados encostou seus lábios, e...
Ploft!!

Nada mudou, nada de diferente ela via ao abrir os olhos.
-Tu não virou príncipe!?!
-Não, mas tu viras-te uma linda sapinha!

Muitas vezes é isso que acontece, esperamos por magias que não nos compete.

Mas se acreitada ela nunca deixa de acontecer.

E os sapinhos? Ah, esses viveram felizes para sempre.O sapinho sempre muito atencioso mostrando o "mundo lago" para a pequena princesa, ops...pequena sapinha, que não se cansava de descobrir o quão lindo é o mundo quando vivido no seu próprio mundo.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Quando ele chega


Agora que sinto amor

Tenho interesse nos perfumes

Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro

Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova

Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia

São coisas que se sabem por fora

Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira

Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver


Alberto Caeiro

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Quero


Eu quero colo

Um berço

Um braço quente em torno do meu pescoço

Uma voz que cante baixo

Que pareça querer me fazer chorar

Eu quero um calor no inverno

Um estravio morno da minha consciência

E depois em sumo

Um sonho calmo

Um espaço enorme

Como a Lua rodando entre as Estrelas



Poema de Bernardo Soares cantada por Maria Bethânia

terça-feira, 16 de junho de 2009

Melodia do silêncio



Chove...

Mas isso que importa!

Se estou aqui abrigada a ouvir a chuva que cai do céu

Uma melodia de silêncio

Que ninguém mais ouve

Senão eu?



José Gomes Ferreira

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Feitiçaria


Não. Não escrevo o que sou

Escrevo o que não sou

Sou pedra. Escrevo pássaro

Sou tristeza. Escrevo alegria

A poesia é sempre o reverso das coisas

Não se trata de mentira

É que nós somos corpos dilacerados

O corpo é o lugar onde moram as coisas amadas que nos foram tomadas

Presença de ausências, daí a saudade

Que é quando o corpo não está onde está



O poeta escreve para invocar essa coisa ausente

Toda poesia é um ato de feitiçaria

Cujo objetivo é tornar presente e real

Aquilo que está ausente e não tem realidade


Rubem Alves

A cura


A maioria das doenças
Que as pessoas têm

São poemas presos


Palavra boa é palavra líquida

Escorrendo em estado de lágrima


Lágrima é dor derretida


Viviane Mosé

domingo, 14 de junho de 2009

Opostos



Tenho saudade de mil coisas e todas essas mil coisas

Sempre caem na mesma única coisa de que eu tenho tanta saudade:

Sua leveza.

Você me dizia que jamais iria me cobrar leveza, pois me amava intensa.

E me pedia que fizesse exatamente o mesmo

Ainda que ao contrário, por você.

E eu não obedecia nunca, afinal, pessoas intensas não obedecem.

E assim nós seguimos, por alguns bons anos entrecortados

Sendo tão parecidos ainda que tão atraídos mutuamente pelos nossos opostos


Tati Bernardi

Só palavras


E, de repente, a minha poesia não queria falar mais sobre nada disso.

Minha poesia queria ser uma carta anônima, um silêncio, uma brincadeira.

Minha poesia não queria ser nada além de uma frase jogada

Do mais íntimo de uma iluminação sobre um determinado assunto.

Porque, no final das contas, o que escrevo nem é poesia

É prosa, é carta, é desabafo, é qualquer coisa.

É um bilhete manuscrito pregado no espelho só pra desejar

"Bom Dia!"



Marla de Queiroz

Até passar


Deitada, sem abrir os olhos ficou imaginando tudo o que teria que fazer em seu dia.

A cada visão se encolhia entre os lençóis, porque em cada visão vinha junto a lembrança da ausência. Fosse qual fosse suas atividades ele não estaria mais.

Tentava mudar a ordem da rotina, mas o que não mudava era a lembrança.

Virou de lado na cama, tão lenta como se quisesse fazer a lembrança dormir, mas, essa não estava e nem pensavam em adormecer.
Desperta e como quem quer se vingar, com o dedo firme próximo aos seus olhos fechados, teimava em lembrá-la que agora ele não mais estava ali.

E quando teve coragem de abrir os olhos percebeu que o dia tinha se ido e a noite chegara mansa e silenciosa.
E no silêncio, mais alta era a voz da lembrança.

sábado, 13 de junho de 2009

Ilusão


Talvez, sim, talvez eu fosse mulher

Porque pensava no príncipe

A minha mão direita era a minha mão

E a minha mão esquerda era a mão do príncipe

E a minha mão direita e a minha mão esquerda juntas

Eram as nossas mãos

Apertava a mão do príncipe sem cavalo branco

Sem castelo, sem espada, sem nada




Caio Fernando Abreu

Na linha do Mar


Vou me embora desse mundo de ilusão

Quem me viu sorrir,

Não há de me ver chorar...


Paulinho da Viola

Fim de sonho


-Acorde!!!
A mãe dizia com voz doce.
- A c o o o o r d a, menina!
Mas a menina nem queria saber de acordar.
- Acorde, que esse sonho já durou demais!
E a menina tentava abrir os olhos, mas pareciam colados. pesados, cansados.
- Nunca vi ser tão teimosa, deixa esse sonho pra lá. Pare de insistir no que não dá.
O que a mãe não sabia era que a menina só gostava desse sonho.
E continuava lá, sem querer parar de sonhar.
- Já sei então, troque o sonho.

Então, a menina abriu os olhos:

- Se é para trocar de sonho prefiro nem sonhar...


Mas no fim sempre se acorda dos sonho, de todos...

Pela última vez


Ninguém é culpado pelo que sentimos.

Cada um deve assumir seus atos, e o que esses atos acabam gerando.

Bem vinda outra vez ao que já viveu !
=
O jeito que vai se levantar é problema seu.

Única e exclusivamente seu.

domingo, 7 de junho de 2009

Ouvir...


Clic


Quando as duas partes do par

Se encaixam faz “clic”

E a felicidade acontece




Rubem Alves

Depois do depois


Gosto quando me tocam teus acordes
Minha sinfonia preferida
E me acalentas com notas musicais
Suave como os sonhos mais puros
Que despertam depois do depois...


Lúcia Gonczy

Ondas


Hoje estou mais sons que palavras

Permitindo ecoar cá dentro sons

Que só à mim fazem sentido

E esses sons internos me remete ao mar

Um mar de sentimentos profundos

De ondas barulhentas

E assim como as palavras

Que hoje se calam

E os sons em pelno barulho

Só fazem sentido

Quando ecoa em conversa

Razão e emoção

Assim

Entre calmaria de palavras

E plena bagunça de sons

Grita alto de saudade meu coração


De dois, um único


Ainda mais agora que antes, me permito pensar à respeito de tudo

Tudo o que aconteceu

O que deixou de acontecer

Dos nossos erros

E a maioria deles na tentativa de acertos

Erros que levaram a tropeços, que geraram mudanças

Que despertaram medos e que levaram a caminhos diferentes



E depois de tanto esperar
=
Que houvesse novamente a união dos caminhos

O medo que tenta mais uma vez dominar e impedir que nasça flores



Não é o medo que quero cercando de pedras a estrada

Quero a liberdade, a vontade para floris

E fazer desse caminho, o prazer

Onde a certeza de que se houve novamente união

É porque nossos passos de alguma forma

Sentem-se bem ao caminhar juntos...