domingo, 30 de novembro de 2008

Ouvindo

O beijo que procuras


Sou chama e neve branca e misteriosa
E sou, talvez, na noite voluptuosa

Ó meu Poeta, o beijo que procuras!

Florbela Espanca

Meu corpo


...

Meu corpo é uma floresta fechada

Onde escolheste o caminho

Depois de te perderes

Guardaste a chave ...





Ana Paula Tavares

Seduziste-me


Antes de tocar teu corpo
já me tinhas seduzido duas vezes
Uma como teu sorriso em fogo
outra com teu olhar em riste
Quanto entrei em ti
de madrugada
foi apenas um gesto instinto
São assim os casamentos do Destino
como os raios no deserto em noite de luar


Luís Gaspar

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Amor


Alguém já falou que,

"O amor é feito de pequenas coisinhas..."

Delicadeza


O que eu quero contar é tão delicado quanto a própria vida.
Clarice Lispector

Interligados


Tudo que eu sinto esbarra em Deus



Adélia Prado

Confidência


Mas, se esqueço a paciência,

me escapam o céu

e a pequena flor-do-campo.
=
Adélia Prado

Saudade


Saudade da maré-cheia,
dos pequenos barcos tristes
com o exacto
tamanho dos meus anseios.




Soledade Santos

Lembrete


Não esqueças, sobretudo,
de olhar devagar.


Vasco Gato

Poema


O problema não é meter o mundo no poema;

Alimentá-lo de luz, planetas, vegetação.

Nem tão pouco enriquecê-lo,

Ornamentá-lo com palavras delicadas,

Abertas ao amor e à morte, ao sol, ao vício,

Aos corpos nus dos amantes.

O problema é torná-lo habitável, indispensável

A quem seja mais pobre, a quem esteja

Mais sódio que as palavras

Acompanhadas no poema.



Casimiro de Brito

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Todos os sentidos



Há sons que me confudem

Cheiros que não identifico

Gostos que me deixam na dúvida

Há coisas que mesmo estando em contato,
=
ainda não sei do que se trata

E a vista, essa por muitas vezes me faz incrédula

Mas meu Sexto Sentido, esse sim não me decepciona nunca.

Desejo !


Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa,

não importa o quê,

como aquela fé que a gente teve um dia,

me deseja também uma coisa bem bonita,

uma coisa qualquer maravilhosa,

que me faça acreditar em tudo de novo,

que nos faça acreditar em tudo outra vez.




Caio Fernando Abreu

Imagem Google

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Sua flor de açucena


Quando acariciei o teu dorso, campo de trigo dourado,

minha mão ficou pequena como uma flor de açucena,

que delicada desmaia sob o peso do orvalho.

Mas meu coração cresceu e cantou como um menino

deslumbrado pelo brilho estrelado dos teus olhos.



Thiago de Mello

Imagem Google

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Saudade...

Se fosse só sentir saudade
Mas tem sempre algo mais...
=
Angra dos Reis
Renato Russo / Renato Rocha / Marcelo Bonfá
=
Imagem Google

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

No perfume da manhã


Se eu pudesse - se os deuses permitissem
teria assistido hoje ao seu despertar.
E, então, teria feito uma festa
de luz, de cor, de aroma.
Eu transportaria para tua alcova
toda a vibração musical da aurora,
todo o estremecimento solar.
E teria enfeitado os teus cabelos
com o mais lúcido e macio dos raios de luz;
e teria espargido sobre os teus ombros
o perfume mais suave da manhã;
e teria prendido no teu riso a pétala mais diáfana.
E, quando te levantasse,
eu faria com que pisasse rosas frescas e voluptuosas;
e assim teus pés teriam como que sandálias de perfume.



Nélson Rodrigues

Te ouvir no silêncio


Ah! Não me fales nada!

Antes me fala de tal maneira

Que, se eu fora surdo

Te ouvisse todo como coração



Fernando Pessoa

Tal qual fogo


A ausência diminui as pequenas paixões

E aumenta as grandes

Da mesma forma que o vento apaga a vela

E atiça a fogueira



François de la Rochefoucault

domingo, 2 de novembro de 2008

Como Contas

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Carlos Drummond de Andrade