sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Volta logo, meu amor!

Eu só escrevo por não saber o que fazer com as mãos

quando o nosso abraço termina.


Marla de Queiroz


Amigos são flores que rego à medida das necessidades.

Que abraço forte

Sem cercear a liberdade.

Que amo

Sem esperar reciprocidade.

Amigos são jóias raras

E a qualquer sinal respondo com meu amor que

É sempre incondicional



Belvedere

A Sombra do Homem

Já de tanto sentir a Natureza,

De tanto a amar, com ela me confundo!

E agora, quem sou eu? Nesta incerteza,

Chamo por mim. Quem me responde? O mundo.
=
=
Chamo por mim e a estrela me responde.
=
Chamo de novo; e diz o mar: quem chama?

E diz-me a flor: onde é que estás? aonde?

Vede a sorte terrível de quem ama!


Quem é somente amor desaparece;

Deixa, para ser tudo, de existir.

Por isso, enquanto o Amor nos entristece,

Tudo, em volta de nós, está a sorrir.
=
Teixeira de Pascoaes

domingo, 26 de agosto de 2007


Sonha, poeta!
=
O sonho é o entorpecente,

O mais sublime tóxico do mundo,

A morfina ideal do teu viver

Sonha um sonho infinito, azul, profundo,

Indefinidamente,e esquece a vida que tu tens presente

Pela vida maior que há no teu Ser!

Esquece tudo, o próprio mundo esquece,

E esquece a tua vida, porque a tua vida

Vale mais se a souberes fazer grande

E cada vez maiorna tua exortação.

Se o teu destino é estranho e é diferente,

Se não nasceste igual a toda gente,

Ensina o canto livre e a vida nova

Aos Prometeus da Razão!

Faze tu mesmo, o teu próprio Universo,

Tua terra.Teu céu.Tua vida.Teu verso.

E o Universo dos homens que te importa então?

Sê louco! Que a loucura é essa subidade pequenez restrita da verdade

À grandeza infinita da Ilusão!

O teu sonho não traz o pedestal na terra,

Teu espírito é assim como um condor boiando

Nos espaços azuis.

Sobe, devassa os céus, de lado a lado,

Vê se existe algum poeta, além, por outros mundos,

Esse poeta que à noite escreve com as estrelas,

Não tendo ao solo acorrentado os pés!

Sonha, poeta!

Eu quero ver-te aflito

Sacudir os teus braços na amplidão

a ferir com teus dedos o Infinito

E ao baixar tuas mãos,

De novo ao vê-las,

Hás de exclamar, tenho-as de ouro e lilás;

E olhando para o céu

Verás o céu sangrandode estrelas,

E as tuas mãos, a transbordar estrelas

Assombrado verás!

Não trouxeste o destino de arrastara tua ânsia na terra

Onde os homens pregados vão de rastros.

Solta a tua alma azul no espaço azul,

Os teu sonhos semelham-se a bandeiras

Fremindo ao vento no cordel dos mastros!

Vai brincar com os cometas sem destino

E conversar com os astros!

Sonha! Que este sonhar só bem te faz!

Sê sempre o mesmo:Um louco!Um incomum!

Não te sujeites a domínio algum,

E que o teu sonho não acabe mais!


J.G. de Araujo Jorge


Nenhuma palavra

alcança o mundo, eu sei.

Ainda assim, escrevo.


Mia Couto


Para ti eu criarei um dia puro

Livre como o vento e repetido

Como o florir das ondas ordenadas



Sophia de Mello Breyner Andersen

sexta-feira, 24 de agosto de 2007


Às vezes a vida é assim,

Nos presenteia com pequenos milagres.

Aquele alguém que nos ama, até as imperfeições.

O pazer de sonhos em momento menos imaginado.

Um sorriso que faz o mundo inteiro florir.

A sede de outra sede igual.

Onde duas sedes aliviam-se em beijos

Amor, o milagre da vida
=
Que faz o tempo da delicadeza.


E aqui tão longe eu pego na viola

Aquele verso começo a cantar

Uma saudade é dor que não consola

Quanto mais dói

A gente quer lembrar




Raul Torres e João Pacífico


O doce gosto de você

que ainda mora na memória

da minha pele saudosa.

Ser feliz não é ter uma vida perfeita.

Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância.

Usar as perdas para refinar a paciência.

Usar as falhas para esculpir a serenidade.

Usar a dor para lapidar o prazer.

Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência.


Augusto Cury

E há uma grande vontade de viver,
todo o nosso ser pede pra viver, e,

=inflamado com a esperança mais ardente, mais cega,
o nosso coração

=parece desafiar o futuro, com todo o seu mistério,
com todo o desconhecido,

=ainda que em tempestades e tormentas,
contanto que isso seja vida!

=
Fiodor Dostoiévski

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Do oceano onde me revia
=
sobrou só uma água de nada

visita-me ela todo o dia

perversa, maldosa e salgada.



Não serve para a sede matar

mas antes salga a minha vida

não parando de gotejar

faz com que a sinta mais sofrida.



Primeiro, brilha dolorosa

depois em queda copiosa

domina todo o meu querer.



Ofusca-me pois está água

gota-forma da minha mágoa

matiz salgada do meu ser.



Henrique Moreira

domingo, 19 de agosto de 2007

As Quatro Lendas do Vento


(Ouvindo os sons dos ventos, podemos ouvir as vozes dos
antepassados e dos ainda não nascidos)


Dizem os antigos que os ventos

Não são mais do que os lamentos

De almas inquietas que morreram

E que se os soubermos ouvir

Falam do findo e do provir

E dos que ainda não nasceram.


(O vento é um espírito que testa
a nossa força vital e nossos merecimentos)


Dizem ao velhos serenamente

Que eles acariciam a gente

Para testar o nosso vigor

Pois o espírito das ventanias

Causando-nos respostas sombrias

Pode em inércia virar temor.


(Levantando o horizonte, derrubando homens e árvores,
o vento mostra a equidade da vida)


E se o vento, em forte ventar

Acabar por te derrubar

Não vê nisso uma ignomínia

Revela-te só o pó que és

Mostrando estar sob os teus pés

A terra onde tudo volta um dia.


(Ouve o vento com o coração,
ele pode trazer notícias do teu amor)


Que me traga o vento novas tuas

Coisas de amor, não notícias cruas

Para o meu amor se alimentar

E que ele em nova rotação

Te leve os sons do meu coração

Transformando em nada, este mar.


Henrique Moreira

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Amor é Síntese



Por favor não me analise

Não fique procurando cada ponto fraco meu

Se ninguém resiste a uma análise profunda

Quanto mais eu

Ciumento, exigente, inseguro, carente

Todo cheio de marcas que a vida deixou

Vejo em cada grito de exigência

Um pedido de carência, um pedido de amor

Amor é síntese

É uma integração de dados

Não há que tirar nem pôr

Não me corte em fatias

Ninguém consegue abraçar um pedaço

Me envolva todo em seus braço

E eu serei perfeito amor.


Mário Quintana

Correndo atrás das borboletas


Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz

com uma outra pessoa,

você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela.


Percebe também que aquela pessoa que você ama

(ou acha que te ama) e que não

quer nada com você, definitivamente, não é

a pessoa da sua vida.


Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e,

principalmente, a gostar de quem

também gosta de você.


O segredo é não correr atrás das borboletas

É cuidar do jardim para que elas venham até você.


No final das contas, você vai achar não quem você

estava procurando, mas

quem estava procurando por você!


Mário Quintana

quinta-feira, 16 de agosto de 2007



Tantas foram as vezes que desisti sem mesmo tentar,
=
fugindo só pra não enfrentar o que me assustava, o novo.
=
Sorrí pra não mostrar o choro.
=
Sinto pelas coisas que não mudei, amizades que não cultivei,

palavras que falei, e muito mais, pelas palavras que não deixei sair.
=
Tenho saudade de tudo que marcou minha vida.
=
Das coisas que já foram esquecidas, de pessoas que fui conhecendo,
=
de pessoas que acabaram indo.

=
=
E assim eu continuo vivendo e aprendendo!
=
Ou, pelos menos tentando aprender!!


É assim que me escondo

por detrás de mim mesmo

entre o negro da alma

e o doce das palavras



Naquele lugar

onde ninguém arrisca espreitar

agri-doce disseste tu

quando o ousaste provar



Acerto-me assim incerto

num pequeno buraco ou num grande embaraço

acabo por conter todas as luras

e por viver todas as loucuras

por causa desta falta de espaço.



Sou grande demais para viver assim

vivo meia vida de cada vez

uma parte em mim

outra tanta em ti



Nasceu comigo esta agrura

mas de ti ganhei a doçura

sou agri-doce por não me caber em mim.
=
Henrique Moreira


Mesmo que voes, um dia perderá as asas.

Isso mostra o quanto és frágil.

Mas, enquanto voas, pode ir aonde queres.

Isso mostra o quanto és livre.

Kitsune Faherya

terça-feira, 14 de agosto de 2007


Antes do teu olhar, não era,
nem será depois, - primavera.
Pois vivemos do que perdura,
=
não do que fomos. Desse acaso
do que foi visto e amado:- o prazo
do Criador na criatura
=
Não sou eu, mas sim o perfume
que em ti me conserva e resume
o resto, que as horas consomem.
=
Mas não chores, que no meu dia,
há mais sonho e sabedoria
que nos vagos séculos do homem.
=
Cecília Meireles
=
Porque rosa pode ser um nome ou um motivo.

domingo, 12 de agosto de 2007


Um bom pai tem algo de mãe.



Alguém disse

Te esquecer

Vai ser fácil esquecer você,
basta não olhar o céu,
não lembrar o mar,
=
Vai ser fácil esquecer você,
basta esconder a simpatia,
Abandonar a ilusão,
mascarar a alegria,
viver na solidão,
=
Vai ser fácil esquecer você,
basta não lembrar o seu sorriso,
seu corpo molhado,
seu olhar meigo,
=
Vai ser fácil esquecer você,
basta de nada olhar
de nada lembrar
nem amar
=
Esquecer sua importância na minha existência,
=
Vai ser fácil esquecer você,
basta eu mesmo
Esquecer de mim



Raphael F. Ruperto

Quanto mais fecho os olhos, melhor vejo
=
Meu dia é noite quando estas ausente
=
E a noite eu vejo o sol, se estas presente
=
Shakespeare


Não estou falando de um mundo cor-de-rosa ou
de pessoas perfeitas, sempre prontas para nos acolher,
amar, caminhar ao nosso lado.
Não falo disso, mas da tristeza nos olhos de quem vira as costas
e a gente não vê.
A beleza por dentro de um peito encouraçado que a gente não sente.
A solidão de quem afasta um amor e se deita em camas tão frias.
É do instante quando os olhos se perdem no nada e
nenhuma mentira é capaz de enganar si mesmo.
É desse instante solitário, desse instante sem abraço, que eu digo.
Todo mundo vai virar as costas ou dizer que merece coisa melhor
ou debochar das mentiras que eles contaram
mas a gente pode sempre voltar e acolher com amor,
ser os primeiros a começar.
Afinal, se a hostilidade do mundo despertar a nossa,
quem vai ser o primeiro a sorrir?
Rita Apoena

sábado, 11 de agosto de 2007

Arrepio


O arrepio é quando,



por serem tão leves,



seus dedos conseguem,



em cada um dos meus poros:



soerguer uma flor.




Rita Apoena


A guitarra

faz soluçar os sonhos.

O soluço das almas

perdidas

foge por sua boca

redonda.

E, assim como a tarântula,

tece uma grande estrela

para caçar suspiros

que bóiam no seu negro

abismo de madeira.

Fedérico Garcìa Lorca

Tenho Sede


Traga-me um copo d'água, tenho sede

E essa sede pode me matar

Minha garganta pede um pouco de água

E os meus olhos pedem teu olhar

A planta pede chuva quando quer brotar

O céu logo escurece quando vai chover

Meu coração só pede o teu amor

Se não me deres posso até morrer

Dominguinhos

Escrevo-te cartas que nunca irás receber

=a morada desaparece

sempre que tentamos encontrar

não uma porta, mas uma casa inteira.

desligo tudo dentro deste quarto.

ouço, incompleto, com a janela

entre aberta ao fresco da noite

cada pequeno ruído,

como se fosse um código para nos entendermos.


Ruy Ventura

domingo, 5 de agosto de 2007

Assim que vi você
Logo vi que ia dar coisa
Coisa feita pra durar,
Batendo duro no peito
Até eu acabar virando
Alguma coisa
Parecida com você
Parecia ter saído
De alguma lembrança antiga
Que eu nunca tinha vivido,
Mas ia viver um dia
Alguma coisa perdida
Que eu nunca tinha tido
Alguma voz amiga
Esquecida no meu ouvido
Agora não tem mais jeito,
Carrego você no peito
Poema na camiseta
Com a tua assinatura
Já nem sei se é você mesmo
Ou se sou eu que virei alguma coisa tua

Alice ruiz


Amor é uma mistura de alegria e medo;

De paz por um lado e ameaça de guerra pelo outro.

É pensar que a felicidade tem nome e endereço.

É sofrer tanto quanto querer.


Bruno Campel

Esperanto


Falo sua língua

Com meus dedos

Românticos, agressivos

Tímidos, nostálgicos

Perambulam, intercalam

Expressam e se calam

Fazem cair barreiras

Criam raízes profundas e rasteiras

Meus dedos

Sua língua,

Constante fusão.



Deborah Milgram


Nunca lhe prometi um jardim de rosas, o livro conta a história de uma garota de dezesseis anos, Deborah Blau, que tem esquizofrenia, e é internada pelos pais em um hospital psiquiátrico.

Ela vive em dois mundos, realidade e imaginário.O segundo criado para fugir da realidade sofrida, um mundo de deuses e personagens que acredita serem reais.

Com passagens emocionantes, fortes, de narração sublime, onde emoção, realidade, força, doença e aceitação se entrelaçam e fazem desse um romance surpreendente.

Hannah Green escreve de uma maneira clara e bela, e faz o leitor torcer para vê- la bem e recuperada

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Rosas

Rosas!!

Gosto de rosas vermelhas sanguíneas vibrantes de paixão!

Gosto de rosas orvalhadas, pingando de geadas noturnas e,

de alvoradas, manhãs frias que cortam os dedos e ferem a Alma!

Gosto de Rosas! Daquelas do teu jardim!

E, do meu jardim: do caminho perdido no fim da vereda,
=
daquele prado.

Também gosto delas brancas a clamar pureza a lembrar infância,
=
inocência, esperança!

Ah! A esperança e as rosas!

Terão alguma similaridade? Serão binómio?
=
Serão um "duo" uma "aliança"?

Sempre desejei ter uma rosa, por ti ofertada

E, no meu jardim semeada,

eterna (sem estação) ;

Semeada por tua mão

Colhida e colocada, junto ao meu coração!

Rosas! Ah, as rosas!

Como gosto delas, brancas, amarelas ou vermelhas,
=
sangrando de vermelho como as pétalas sangrentas, dolorosas,
=
violentas, do tom, do peso, do tamanho da medida, imedível,
=
da minha paixão!

Rosas! Rosas!

Gosto de todas as rosas do teu jardim, aquelas vermelhas,
=
brancas ou amarelas, colhidas para mim!


Heloísa B.P.


Queria de ti um país de bondade e de bruma

queria de ti o mar de uma rosa de espuma.


Mário Cesariny

Quando tu vens ao meu encontro

sorrindo

Rosa precipitada

antigo Mar Vermelho

meu coração

abre-se



Ana Hatherly


Com mãos se faz a paz se faz a guerra.

Com mãos tudo se faz e desfaz.

Com mãos se faz o poema - e são de terra.

Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.



Não são de pedra estas casas,

mas de mãos.

E estão no fruto e na palavra

as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no tempo como farpas


as mãos que vês nas coisas transformadas.

Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor, cada cidade.


Ninguém pode vencer estas espadas:

nas tuas mãos começa a liberdade.


Manuel Alegre

quarta-feira, 1 de agosto de 2007


Creio nos anjos que andam pelo mundo,

Creio na deusa com olhos de diamantes,

Creio em amores lunares com piano ao fundo,

Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;


Creio num engenho que falta mais fecundo

De harmonizar as partes dissonantes,

Creio que tudo é eterno num segundo,

Creio num céu futuro que houve dantes,


Creio nos deuses de um astral mais puro,

Na flor humilde que se encosta ao muro,

Creio na carne que enfeitiça o além,


Creio no incrível, nas coisas assombrosas,

Na ocupação do mundo pelas rosas,

Creio que o amor tem asas de ouro.

Amén.


Natália Correia

Finalmente
(embora saibas que não há nem fim nem princípio) :
deves dizer ainda
que há uma rosa de espuma no teu peito
e que o seu perfume não se esgota.
E que lá também existe
uma fonte onde bebem as flores silvestres.

Mas não humildes, como ias chamar-lhes :
altas como as espigas do vento,
que no vento se esquecem
e que no vento amadurecem.


Albano Martins


Em quem pensar, agora, senão em ti?

Tu , que me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste amanhã da minha noite.

É verdade que te podia dizer:

"Como é mais fácil deixar que as coisas não mudem, sermos o que sempre
fomos, mudarmos apenas dentro de nós próprios?"

Mas ensinaste-me a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,

até sermos um apenas no amor que nos une, contra a solidão que nos divide.

Mas é isto o amor;

ver-te mesmo quando te não vejo,

ouvir a tua voz que abre as fontes de todos os rios,

mesmo esse que mal corria quando por ele passámos,

subindo a margem em que descobri o sentido de irmos contra o tempo,

para ganhar o tempo que o tempo nos rouba.

Como gosto, meu amor, de chegar antes de ti para te ver chegar:

com a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água fresca que eu bebo,

com esta sede que não passa.

Tu:

a primavera luminosa da minha expectativa,

a mais certa certeza de que gosto de ti, como gostas de mim,

até ao fim do mundo que me deste.


Nuno Júdice