quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Olhos


Às vezes tu dizia

"Os teus olhos são peixes verdes"

E eu acreditava

Porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Eterna


Dizem que, enquanto a árvore de Ana estivesse florida ela estaria em paz

Por isso tinha tantos cuidados e amor pela Primavera

Para que ela durasse todos os dias do ano

domingo, 19 de setembro de 2010

Que seja...


Nem tudo tem que ter nome

O que importa é que seja bom

"Que seja doce"

Setembro me encanta


Quando entrar Setembro e a boa nova andar nos campos

Que venha nos trazer Sol de Primavera

Abre as janelas do meu peito



Beto Guedes e Ronaldo Bastos


Sendo


- Por que é que você olha tão demoradamente cada pessoa?
Ela corou:
- Não sabia que você estava me observando. Não é por nada que olho, é que gosto de ver as pessoas sendo.



Sorriram e ficaram calados como se os dois pela primeira vez se estivessem encontrado.
Estavam sendo

Clarice Lispector

Inteira


Nos demais, todo mundo sabe

O coração tem moradia certa

Fica bem aqui no meio do peito

Mas comigo a anatomia ficou louca

Sou toda coração



Maiakovski

Acredito


Tudo o que chega

Chega sempre por alguma razão



Fernando Pessoa

Sábado de chuva


O que diferencia um indivíduo do outro são os caminhos que tomam para si

Alegrias, momentos que não deveriam ter fim, como o dia de hoje
e até mesmo problemas, confirmam a condição do ser humano

Ninguém pode escolher ou fazer o caminho por mim
assim como também não posso fazê-lo por outro
Mas a escolha de quem vai estar junto no percurso, sim, isso se pode fazer
E a boa escolha traz tranquilidade

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Cada novo dia


Todo nascer era verdadeiramente novo

Cabia a ti a novidade de estar vivo



Antonio Mariano

Olhar


Se você souber olhar as coisas de um jeito mágico

Tudo fica mais bonito



Caio Fernando Abreu

domingo, 12 de setembro de 2010

Sonhos


Estou desconfiada de que a gente cresce quando começa a aprender com os sentimentos, muito além da retórica, a não permitir que uma desilusão ou outra nos afaste de nós mesmos e nem dos nossos sonhos mais bonitos



Ana Jácomo

sábado, 11 de setembro de 2010

Amor sem palavras


Coisa rara e bonita é a gente poder se comunicar por meio da alma

Sem que palavra alguma necessariamente aconteça



Ana Jácomo

Nascimento


Não é o poeta que cria a poesia

Na verdade, é o nascimento de poesia que cria o poeta



Osho

Poesia


...é acreditar que se pode voar mesmo sem ter asas

Seguindo


Até onde podemos ir? Até o limite do suportável

Um belo dia, depois de inúmeras repetições do mesmo erro, a gente desiste

Com tristeza pela perda, mas com alegria pela descoberta

Diz para si mesma

Cheguei até aqui, e então a vida muda

Martha Medeiros

Revestida


Quero é me colocar no estado de poesia

Ser uma antena hipersensível

Feroz como uma pantera

Suave como um vaga-lume

Intensa como um vendaval



Ademir Assunção

Liberdade


Liberdade na vida

É ter um amor

Para se prender



Fabrício Carpinejar

Milagrar


Prefiro as máquinas que servem para não funcionar

Quando cheias de areia, de formigas e musgo

Elas podem um dia milagrar de flores



Manoel de Barros

domingo, 5 de setembro de 2010

Amor e Paixão


A paixão testa, o amor prova

A paixão incrimina, o amor perdoa

A paixão é desejo da vaidade, o amor é a vaidade do desejo

A paixão vasculha o que o amor descobre

A paixão começa rápido, o amor não termina



Fabrício Carpinejar

Primavera


Quando Setembro vier

De tão azul, o céu parecerá pintado



Caio Fernando Abreu

Traço a traço


No retrato que me faço
Traço a traço
Às vezes me pinto nuvem
Ás vezes me pinto árvore
Ás vezes me pinto coisas
De que mem há mais lembranças
Ou coisas que não existem
Mas que um dia existirão
E, desta lida, em que busco
Pouco a pouco
Minha eterna semelhança
No fim, que restará?
Um desenho de criança
Terminado por um louco



Mário Quintana

Vão te amar por seus despropósitos


A mãe disse que carregar água na peneira
Era o mesmo que roubar um vento
E sair correndo com ele para mostrar aos irmão
A mãe disse que era o mesmo
Que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso
O menino era ligado em despropósitos
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos


A mãe reparou que o menino
Gostava mais do vazio do que do cheio
Falava que os vazios são maiores até infinitos
Com o tempo aquele menino
Que era cismado e esquisito

Porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria
O mesmo que carregar água na peneira
No escrever o menino viu que era capaz de ser
Noviço, monge ou mendigo ao mesmo tempo
O menino aprendeu a usar as palavras
E começou a fazer peraltagens
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro
Botando ponto final na frase
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela
O menino fazia prodígios
Até fez uma pedra dar flor


A mãe reparava o menino com ternura
A mãe falou
Meu filho você vai ser poeta
Você vai carregar água na peneira a vida toda
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
E algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos

Manoel de Barros