segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Meu colo


Se o sopro do meu ser em poesia

Chegar a tempo de curar-te a dor

Ou de aliviar-te essa agonia

Aceita pois, meu outonal rebento

E faz de conta que eu te dei guarita

Que as begônias floram o teu caminho

E que as cigarras cantam em tua vida



Kátia Drummond

domingo, 28 de novembro de 2010

Coragem


Nada em mim foi covarde

Nem mesmo as desistências

Desistir ainda que não pareça

Foi meu grande gesto de coragem



Cáh Morandi

Das noites


Direis ouvir estrelas

Decerto perdeste o senso

E eu vos direi, no entanto

Que para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto

Enquanto conversamos

Cintila a via láctea

Como um pátio aberto

E, ao vir do sol

Saudoso e em pranto

Inda as procuro pelo céu deserto

O que conversas com elas?

O que dizem quando estão contigo?

Ah! amai para entendê-las

Pois só quem ama pode ouvir estrelas



Olavo Bilac

Alma Gêmea


As pessoas acham que alma gêmea é o encaixe perfeito, mas a verdadeira alma gêmea é um espelho. A pessoa que mostra tudo que está prendendo você, a pessoa que chama atenção para você mesmo, para que você possa mudar sua vida. Uma verdadeira alma gêmea é provavelmente a pessoa mais importante que você vai conhecer, porque elas derrubam suas paredes. Mas viver com uma alma gêmea para Sempre? Não. Dói demais. As almas gêmeas só entram na sua vida para revelar a você uma outra camada de você mesmo, e depois vão embora.



Elizabeth Gilbert

Para entrar, mas também para sair


Mas chega uma hora na vida

Que a gente tem que parar de ser boa com os outros

E ser boa primeiramente com a gente

Fiquei amarga? Não, não mesmo

Isso é ser prática

Vacilou? A porta está aberta, meu bem

Sem dó nem piedade



Fernanda Mello

Fundamental


Como é bom viver sem esperar muito dos outros

Como é bom traçar os próprios caminhos

E escrever a própria história

Não sou mais obrigada a ser perfeita

Apesar das minhas falhas

Estou apaixonada por mim



Augusto Cury

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Um quê de não sei quê


Ela é moça de poses delicadas, sorrisos discretos e olhar misterioso

Ela tem cara de menina mimada, um quê de esquisitice

Uma sensibilidade de flor, um jeito encantado de ser

Um toque de intuição, e um tom de doçura

Ela reflete lilás, um brilho de estrela

Uma inquietude, uma solidão de artista

E um ar sensato de cientista

Ela é intensa e tem mania de sentir por completo
-
E de ser por completo

Dentro dela tem um coração bobo

Que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez

Ela tem aquele gosto doce de menina romântica

E aquele gosto ácido de mulher moderna



Caio Fernando Abreu

Bom...!!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Flutue


Tenta te orientar pelo calendário das flores

Esquece por um momento os números

A semana, o dia do teu nascimento

Se conseguires ser leve, aproveita

Enche tuas malas de sonhos

E toma carona no vento



Fernando Campanella

Força


Ela olhou o campo sem fim, onde ela era única

E subtamente sentiu respeito pela coragem da flor

Pela audácia de ser pequena e fraca

Em meio a coisas rudes

Maiores do que ela



Caio Fernando Abreu


Direito e dever


E celebro todo dia o meu direito de ser boba

Tatuando poesia no céu da minha boca



Ana Jácomo

domingo, 21 de novembro de 2010

Contorcionista


Gosto de imaginar na minha ludicidade poética

Que somos girassóis humanos

Lindas, fartas, ensolaradas pétalas sutis

É da nossa natureza buscar a luz e o chamado intransferível

É tão vital que às vezes até nos tornamos contorcionistas

Diante das circuntâncias da vida

Só para nos voltarmos para ela

E o miolo, bordado cheinho de sementes de amor e de lume

É o nosso coração



Ana Jácomo

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sorriso e Música



Semente


Flor parece a gente

Pois somos sementes

Do que ainda virá



O Teatro Mágico

Para isso vivemos


Não lemos e escrevemos poesias porque é bonitinho

Lemos e escrevemos poesia porque somos membros da raça humana

E a raça humana está repleta de paixão

Medicina, advocacia, administração e engenharia

São objetos nobres e necessários para manter-se vivo

Mas a poesia, beleza, romance, amor

É para isso que vivemos



Sociedade dos poetas Mortos

domingo, 14 de novembro de 2010

Lua do Poeta


Diz a lenda que o poeta Li Po

Afogou-se na noite em que embriagado

Quis agarrar a Lua sobre o lago

É lenda, bem se vê

Pois a verdade é que a Lua

Teria seguido o poeta a qualquer canto

Se ele apenas a tivesse chamado



Marina Colassanti

Eu quero o simples

Eu quero varanda, pirilampos e borboletas
=
Cercas baixas e brancas

Jardins cuidados

Eu quero cigarras ao entardecer

Eu quero grilos ao anoitecer

Eu quero casas livres

Crianças aprendendo

Adultos envelhecendo

Anjos despreocupados

Eu quero namorar no banco da praça



Oswaldo Antônio Begiato

Sol


Sobre todos aqueles que ainda continuam tentando

Deus derrama teu sol mais luminoso



Caio Fernando Abreu

Água Viva


Inútil querer me classificar

Eu simplesmente escapulo não deixando

Gênero não me pega mais

Estou num estado muito novo e verdadeiro

Tão atraente e pessoal a ponto

De não poder pintá-lo ou escrevê-lo



Clarice Lispector

sábado, 6 de novembro de 2010

Inato


O bicho homem não faz outra coisa

A não ser pensar no amor



Caio Fernando Abreu

Laço de amor


O amor não prende

Não escraviza, não aperta e não sufoca

Porque quando vira nó, já deixou de ser laço



Mário Quintana

Sabedoria


A gente, às vezes, se afoba e se abafa desnecessariamente

Os mais lindos bordados da vida são feitos com os fios de delicadeza

Que respeitam a sabedoria do tempo e do coração

Ana Jácomo

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Êxtase


Poeta é um ente que lambe as palavras

E depois se alucina

Manoel de Barros

Shhii


Silêncio! E depois mais silêncio

A boca foi feita para provar dessa doçura

Ana Jácomo

Viva !


Ela tem em si água e deserto

Povoamento e ermo

Fartura e carência

Medo e desafio

Tem em si a eloqüência e a absurda mudez

A surpresa e a antigüidade

O requinte e a rudeza



Clarice Lispector

Rosa


Além dos espinhos eu tenho também muitas flores



Tati Bernardi