domingo, 26 de agosto de 2007


Sonha, poeta!
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O sonho é o entorpecente,

O mais sublime tóxico do mundo,

A morfina ideal do teu viver

Sonha um sonho infinito, azul, profundo,

Indefinidamente,e esquece a vida que tu tens presente

Pela vida maior que há no teu Ser!

Esquece tudo, o próprio mundo esquece,

E esquece a tua vida, porque a tua vida

Vale mais se a souberes fazer grande

E cada vez maiorna tua exortação.

Se o teu destino é estranho e é diferente,

Se não nasceste igual a toda gente,

Ensina o canto livre e a vida nova

Aos Prometeus da Razão!

Faze tu mesmo, o teu próprio Universo,

Tua terra.Teu céu.Tua vida.Teu verso.

E o Universo dos homens que te importa então?

Sê louco! Que a loucura é essa subidade pequenez restrita da verdade

À grandeza infinita da Ilusão!

O teu sonho não traz o pedestal na terra,

Teu espírito é assim como um condor boiando

Nos espaços azuis.

Sobe, devassa os céus, de lado a lado,

Vê se existe algum poeta, além, por outros mundos,

Esse poeta que à noite escreve com as estrelas,

Não tendo ao solo acorrentado os pés!

Sonha, poeta!

Eu quero ver-te aflito

Sacudir os teus braços na amplidão

a ferir com teus dedos o Infinito

E ao baixar tuas mãos,

De novo ao vê-las,

Hás de exclamar, tenho-as de ouro e lilás;

E olhando para o céu

Verás o céu sangrandode estrelas,

E as tuas mãos, a transbordar estrelas

Assombrado verás!

Não trouxeste o destino de arrastara tua ânsia na terra

Onde os homens pregados vão de rastros.

Solta a tua alma azul no espaço azul,

Os teu sonhos semelham-se a bandeiras

Fremindo ao vento no cordel dos mastros!

Vai brincar com os cometas sem destino

E conversar com os astros!

Sonha! Que este sonhar só bem te faz!

Sê sempre o mesmo:Um louco!Um incomum!

Não te sujeites a domínio algum,

E que o teu sonho não acabe mais!


J.G. de Araujo Jorge