quarta-feira, 1 de agosto de 2007


Em quem pensar, agora, senão em ti?

Tu , que me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste amanhã da minha noite.

É verdade que te podia dizer:

"Como é mais fácil deixar que as coisas não mudem, sermos o que sempre
fomos, mudarmos apenas dentro de nós próprios?"

Mas ensinaste-me a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,

até sermos um apenas no amor que nos une, contra a solidão que nos divide.

Mas é isto o amor;

ver-te mesmo quando te não vejo,

ouvir a tua voz que abre as fontes de todos os rios,

mesmo esse que mal corria quando por ele passámos,

subindo a margem em que descobri o sentido de irmos contra o tempo,

para ganhar o tempo que o tempo nos rouba.

Como gosto, meu amor, de chegar antes de ti para te ver chegar:

com a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água fresca que eu bebo,

com esta sede que não passa.

Tu:

a primavera luminosa da minha expectativa,

a mais certa certeza de que gosto de ti, como gostas de mim,

até ao fim do mundo que me deste.


Nuno Júdice