sexta-feira, 25 de agosto de 2006

As cartas de amor deveriam ser fechadas somente depois de
abraçadas, depois de serem levadas bem próximas ao peito,
para que além das palavras escritas
fossem também junto à elas a fala de um coração apaixonado.
Beijadas antes de enviadas. Sopradas. Respiradas.
O esforço do pulmão capturado pelo envelope.
O carinho de uma carta acalma um coração machucado.
Machucado pela saudade.

(...)
Tinha suspirado
Tinha beijado o papel devotamente
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades
E o seu orgulho dilatado em seu calor
amoroso que saía delas
Como um corpo ressequido que se estira num banho tépido
Sentia um acréscimo do estímulo por si mesma
E parecia-lhe que entrava enfim uma
existência superiormente interessante
Onde cada hora tinha o seu intuito diferente
Cada passo conduzia um êxtase
E a alma se cobria de um luxo radioso de sensações.

Eça de Queiroz
Primo Basílio - 1878

Sem comentários: