segunda-feira, 14 de agosto de 2006

A Flor e a Fonte

"Deixa-me, fonte"
Dizia A flor tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Cantava, levando a flor.

"Deixa-me, deixa-me, fonte!"
Dizia a flor a chorar:
"Eu fui nascida no monte..."
"Não me leves para o mar."

E a fonte, rápida e fria,
Com um sussuro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.

"Ai, balanços do meu galho,"
"Balanço do berço meu;"
"Ais claras gotas de orvalho
"Caídas do azul do céu...!"

Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte, sonora e fria
Rolava levando a flor.

"Adeus, sombra das ramadas,"
"Cantigas do rouxinol;"
"Ai festas das madrugadas,"
"Doçuras do pôr do sol;"

"Carícias das brisas leves"
"Que abrem rasgões de luar..."
"Fonte, fonte não me leves,
"Não me leves para o mar...!"

As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a fonte e a flor...

Vicente de Carvalho

2 comentários:

Unknown disse...

Amo poesias e gosto muito de lê-las aqui.

Anónimo disse...

Minha poesia dos tempos de criança. Nunca esqueci.