domingo, 4 de novembro de 2007

Anjo


Dois centímetros cúbicos de nuvem.

Duas lágrimas de criança:

uma derramada em dia de aniversário,

outra no medo do trovão.

Três colheres de açúcar.

Uma pitada de três dedos de pó de ouro.

Duas gotas de lilás.

Um miligrama de cauda de cometa.

Pronto.

Diz-se que essa é a receita básica para se criar um anjo.

Dizem que muitos tentaram criá-los a partir daí.

Não conseguiram pela falta do sopro. O sopro d'Ele.

E Ele, depois do sopro,

põe tudo dentro das mãos em concha, e joga para o alto.

Dois dias depois eles aparecem.

Prontinhos. Sentadinhos em flocos de algodão doce.

Sorrindo banguelas e chupando o polegar,

mania que acaba quando nascem as asinhas,

três séculos depois, na adolescência.

Fase na qual está o nosso anjo,

que tropeça nas estrelas e se esborracha

em nuvens mais pesadas que o ar.

E que grita:

- Merda! (ops!!)

enquanto levanta, sacode as gotículas e dá a volta por cima.



André Gonçalves