segunda-feira, 9 de junho de 2008

Caio Fernando Abreu


Porque quando fecho os olhos, é você quem eu vejo;

aos lados, em cima, embaixo, por fora e por dentro de mim.

Dilacerando felicidades de mentira,
=
desconstruindo tudo o que planejei, abrindo
=
todas as janelas para um mundo deserto.
=
É você quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias,

me tira do sério, faz ares de palhaço, pinta segredos,

ilumina o corredor por onde passo todos os dias.

É agora que quero dividir maças, achar o fim do arco-íris,

pisar sobre estrelas e acordar serena.

É para já que preciso contar as descobertas, alisar seu peito,

preparar uma massa, sentir seus cílios.

“Claro, o dia de amanhã cuidará do dia de amanhã

e tudo chegará no tempo exato. Mas e o dia de hoje?”

Não quero saber de medo, paciência, tempo que vai chegar.

Não negue, apareça. Seja forte.

Porque é preciso coragem para se arriscar num futuro incerto.

Não posso esperar. Tenho tudo pronto dentro de mim e uma alma

que só sabe viver presentes.
=
Sem esperas, sem amarras, sem receios,

sem cobertas, sem sentido, sem passados.

É preciso que você venha nesse exato momento.

Abandone os antes.Chame do que quiser. Mas venha.

Quero dividir meus erros, loucuras, beijos, chocolates...

Apague minhas interrogações.

Por que estamos tão perto e tão longe?

Quero acabar com as leis da física,
=
dois corpos ocuparem o mesmo lugar!

Não nego. Tenho um grande medo de ser sozinha.

Não sou pedaço. Mas não me basto.


Caio Fernando Abreu

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