sábado, 14 de junho de 2008

Futuros Amantes



Música não é só um escrito acompanhado de melodia,
que nasce da inspiração de alguém para surpreender outros.
Não, música é companhia é presença forte.
E quando te encontra, sim porque é ela que te encontra,
e só é encontrada quando quer, e digo isso
porque algumas músicas são ouvidas por tempos e de repente
é ela que tanto foi ouvida que passa a ter um significado maior.
Detalhes que antes não eram percebidos e que agora falam tanto,
e você acaba se dando conta que esse sentimento não é novo,
e que mais alguém além de você já o viveu.
Acordar com Buarque na cabeça deve ter um significado, um bom significado.

E a prova de que nem todos são apenas para serem ouvidos quando musicados
é que essa explicação de Chico me enche os olhos, ou seria os ouvidos?
Porque ouvir de olhos fechados me leva "ao" mar.



"Eu tava mexendo no violão, começando a fazer a melodia,
e ai a primeira coisa que apareceu foi exatamente:
cidade submersa, isolada de tudo.
Porque, cantarolando, parecia que a música queria dizer isso.
Eu tinha que ir atrás , depois tinha que explicar essa cidade submersa.
Apareceu exatamente a cidade submersa antes de qualquer outra coisa
Aí eu coloquei esses escafandristas, e esse amor adiado,
um amor que fica para sempre.
Essa idéia do amor que existe como algo que pode ser aproveitado mais tarde,
que não se desperdiça.
Passa-se o tempo, passam-se milênios,
e aquele amor vai ficar até debaixo d'água.
Um amor que vai ser usado por outras pessoas,
um amor que não foi utilizado porque não foi correspondido,
e então ele fica ímpar, pairando.
Esperando que alguém o apanhe e complete a sua função de amor".


Não se afobe, não, que nada é pra já
O amor não tem pressa, ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário, na posta-restante
Milênios, milênios no ar
E quem sabe, então o Rio será alguma cidade submersa
Os escafandristas virão explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas, sua alma, desvãos
Sábios em vão tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não, que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

Chico Buarque

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