sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A secreta viagem


No barco sem ninguém, anónimo e vazio,

Ficámos nós os dois, parados, de mão dada.

Como podem só os dois governar um barco?

Melhor é desistir e não fazermos nada!

Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos,

Tornamo-nos reais, e de maneira, à proa.

Que figuras de lenda! Olhos vagos, perdidos

Por entre nossas mãos , o verde mar se escoa

Aparentes senhores de um barco abandonado,

Nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem

Aonde iremos ter? - Com frutos e pecado,

Agora sei que és tu quem me fora indicada.

O resto passa, passa alheio aos meus sentidos.

Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada,

A eternidade é nossa , em madeira esculpidos!



David Mourão Ferreira

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