sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Cabeleira


Era uma vez uma garota que foi trancada por sua família em uma torre muito alta, colocada lá por ser teimosa e geniosa, defeitos (?) inaceitáveis, e por ter uma voz diferente das dozelas do vilarejo.
Lá ela tinha de tudo, ou, quase tudo. Toda as as manhãs ao acordar tudo o que precisava lá estava.Quem colocava e como colocava ela não sabia, pois na alta torre não havia portas.
Ela não tinha muito o que fazer por isso aperfeiçoou-se na arte da cozinha.Cozinhava e passava horas a cantarolar na única janela da torre.
Certo dia, enquanto no fogo estava sua nova receita, ela foi até a janela e começou a cantar, foi quando percebeu que estava sendo observada por um lindo cavaleiro montado em seu cavalo.
- Abra a porta, linda moça. Convida-me a entrar!
- Não há portas !
E virando -se para vê-lo melhor suas tranças que depois de tanto tempo sem corte haviam crescido muito cairam janela a fora, o rapaz ao ver tão imensas tranças agarrou-as e escalou a torre até entrar. A moça ainda surpresa pela visita e com o couro cabeludo dolorido perguntou:

-O que te trouxe até esses lados, foi o canto
doce da minha voz?
-Não, foi o cheiro bom da comida !
E isso virou rotina, todas os dias o jovem cavaleiro vinha, arragava as tranças da moça e entrava.A alegria pela visita era tão imensa quanto a cabeleira, mas as dores de cabeça e nas costas tão grande quanto.
-Sabe, andei pensando, você bem podia comprar uma escada, já não ando suportando as dores por carregar você na escalada.Você tem o dobro do meu peso, uma escada seria de muito valor.
-Escada!! Ficou doida?? Sabe quanto custa uma escada? E tem mais, eu ando guardando dinheiro pra trocar de cavalo.Nem pensar em gastar com essa bobeira de escada !

A jovem não acreditava no que estava ouvindo, e desde então começou a tecer uma corda com os fios que perdia todos os dias ao pentear a longa cabeleira. Não levou muito tempo e lá estava uma firme corda.Mas o jovem cavaleiro não queria usar a corda, pois não acreditava que era resistente o bastante para suportar seu peso, já que de tanto comer a deliciosa comida havia engordado, e obrigava a moça a jogar as tranças.
-Jogue-me as tranças, tenho fome e quero subir !

A moça já não aguentava mais, nem era a solidão que a atormentava, pois agora tinha companhia, mas a presença de alguém que não a ouvia, que não a valorizava.
Depois de um farto almoço, o jovem como de costume, foi tirar seu cochilo, a moça cabeluda não pensou duas vezes, lançou a corda de cabelos pela janela com uma das pontas presa ao pé da cama onde o moço dormia e saiu da torre.Montada ao cavalo
via ao longe sua morada ficando menor e distante.
A jovem mudou radicalemente sua vida, inclusive a cor da enorme cabeleira. Hoje não gosta mais de cozinhar mas canta lindamente, já não é mais um canto da janela, mas para um público faminto de sua voz firme e doce e tão diferente de tudo, que quanto mais se ouve mais se quer ouvir.





O jovem cavaleiro? Pelo que se sabe ainda mora na torre.

Deixando a barba crescer.

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