terça-feira, 1 de setembro de 2009

Carta de amor para mim mesma. Porque só eu sei o que preciso ouvir

Kisstina

Escrevo enquanto te olho por dentro. O que vejo nem precisa ser bonito, nasci para amar tudo que vem de você. Escrevo pra te fazer um afago. Porque te conheço inteira, naquela hora em que tudo é silêncio e sombra, naquela hora em que sua gargalhada é um sol. Desse seu corpo que nasceu para abraçar, eu conheço cada poro, cada taqui-bradi-cardia. Conheço cada sopro, cada falha na tua voz. Toda a força do teu canto desafinado, eu conheço. A intensidade do teu gozo, a fluidez das tuas palavras orgásticas que não admitem tutelas. Eu te conheço além da tua relação com as pessoas que você ama. Com essas que você se recusa a odiar porque não quer despender energia pra isso. Eu te conheço doendo. Eu te conheço em paz. E sei quando você finge que nunca fingiu um orgasmo. E é por isso, Kiss, que eu sou a pessoa que mais poderia amar você. Porque não me interessa onde você erra, me interessa o que você aprende, apreende, absorve. Me interessa é como você se transforma. Interessa é o teu olhar de novidade derramado sobre as coisas simples e cotidianas como se descobrisse a essência do mundo diariamente. O que interessa é esse seu medo da morte, a sedução que ela exerce sobre você e o teu instinto de vida tão maior que tudo. Eu te conheço boêmia, anestesiada porque tua intensidade sufocando, apertando os dentes. Eu te conheço premonitória, plantando esperanças porque a intuição disse que sim, vai dar certo, e deu. Eu te conheço arrasada, opaca, ferida, feroz. Rabugenta.Confusa. E não é menos Kisstina. É a outra ponta do extremo. A totalidade. Eu te conheço tendo recaídas, não sendo ingênua mas optando por acreditar no outro de novo, de novo, de novo. Mas só até a terceira vez. Eu te conheço com um mau-humor contagiante, com uma disposição esfuziante, com uma alegria solitária, com todos os teus amigos na praia, ou sozinha com os teus livros e uma canga à parte pra eles. Aquela que só entra no mar de mãos dadas com alguém porque tem medo de não sair. A que evita altura porque quando olha pra baixo só pensa na queda. A que se treme inteira lendo seus textos em eventos poéticos porque tem fobia de público. A amiga popular e agregadora. A que morre de ciúmes e toma remédio efervescente pra acalmar a gastrite ciumenta.Eu nasci pra amar você porque sei dos teus desesperos, tropeços, anseios. Sei da tua honestidade quando sente. E dessa intranqüilidade pela falta de ambição.Te conheço acordando de madrugada só pra anotar uma frase. E fazendo da prosa poética teu sossego. Da vontade que você tem de voltar logo pra casa só pra escrever aquele texto que nasceu durante a caminhada. Das tuas roupas com cores desconexas. Da tua irritação com pessoas desconectadas. Tua preocupação com o lixo. Teu preconceito com o luxo. E a solidão permanente e o teu namoro com a escrita.
O que ainda posso dizer? Que você, Kiss, vive para a palavra, mas anseia viver exatamente aquilo que ela não alcança. E é por isso que eu te amo além do amor.
Eu te amo para sempre. Hoje.


Este texto é de Marla de Queiroz, dela para ela mesma

Onde se lê Kisstina, no texto original se lê Marla

1 comentário:

Carol disse...

My Heart...

Eu te conheço...