quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Logo eu


Ah, tem-se que abrir o coração. Garotas românticas não têm outro destino.
Elas sabem que janelas fechadas dificultam a entrada de assaltantes e resfriado,
mas também impedem a passagem da lua para dentro do quarto.
Não há como viver com a alma sem cor pela porta trancada, onde luz alguma adentra para iluminar os cantos. Há todos esses espinhos no meu quarto e o desejo comedido de ter a luz acesa para me esquivar deles. Mas, se acendo a luz, perco os desenhos feitos pelo encontro da penumbra com o farol dos carros pela persiana.
Acho que não deviam ter-me lido poesia quando eu era pequena. Meu imaginário povoou-se de idéias de ternura e tempestades, idéias de que sem paixão, não é para ser, não é para sequer, se mover. Não sei agir diante da dureza e do caos.
Ninguém sabe. Eu, menos ainda. E agora, eu aqui, me decidindo se vou pelo caminho fácil, ou se continuo pelo meu caminho, onde tudo nunca é menos que em demasia. É que às vezes quase canso e queria saber seguir sem sentir tanto, tudo.
Mas não sei se posso, se consigo. Talvez não me seja permitida a brandura das coisas.
Amores ou dores, só em rompantes, jorros, espasmos.
Logo pra mim, que queria não sentir, que queria pra mim, toda a sobriedade advinda da covardia de não sentir nada. Logo para mim, que, quando criança, quase morri de pena do Bandeira, por saber que o porquinho-da-índia que ele tanto amava, não queria sair debaixo do fogão.
Luzzsh

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