terça-feira, 3 de junho de 2008

O amor impossível é o amor verdadeiro


(...)

O amor cria momentos em que temos a sensação de que a

"máquina do mundo" se explica, em que tudo parece parar num arrepio,

como uma lembrança remota.

E não falo aqui dos grandes momentos de paixão, dos grandes orgasmos,

dos grandes beijos - eles podem ser enganosos.

Falo de brevíssimos instantes de felicidade sem motivo,

de um mistério que subitamente parece revelado.

Há, nesse amor, uma clara geometria entre o sentimento e a paisagem,

como na poesia de Francis Ponge, quando o cabelo da amada se liga

aos pinheiros da floresta ou quando o seu brilho

se une com o sol entre os ramos das árvores e tudo parece decifrado.

Mas não se decifra nunca, como a poesia.

O amor é uma tentativa de atingir o impossível,

se bem que o "impossível" é indesejado hoje em dia;

só queremos o controlado, o lógico.

O amor anda transgênico, geneticamente modificado, fast love.

(...)

Arnaldo Jabor

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